sexta-feira, 20 de abril de 2012

Depois de ter terminado com o meu texto diário de apreciação dos acontecimentos que nos rodeiam, quer no interior do nosso País quer no ambiente externo que tem influência com o que se passa na nossa Pátria, deixando apenas, a partir daí, poemas que retirei do meu arquivo de milhares de poesia que vou acrescentando dia-a-dia, também agora entendo que já chega essa expansão através de um blogue e por isso faço aqui uma paragem. Se ela vai ser definitiva ou apenas temporária, isso é coisa com que não posso comprometer-me. Tudo depende também das manifestações que me cheguem a dar conta da falta que fará este meu trabalho poético. Por isso julgo que não terei razões para lastimar o fim deste meu contacto.

PACIÊNCIA

 Sem ela não se consegue
atravessar existência
p’ra ter uma vida alegre
é preciso paciência
mesmo muita
Tê-la sempre bem presente
e não perder o controlo
porque muito que se sente
provocará grande dolo
dor fortuita
O contrário de tal dom
é, bem sabemos, a ira
isso não é de bom tom
não há ninguém que a prefira
inconstante
Conseguir aguentar
é algo que tem ciência
obriga muito a pensar
recorrer à paciência
 que brilhante
Alcançar ser paciente
com aquilo que irrita
transforma ateu num crente
destrói a vida aflita
 milagre é
Mal sofre quem não atinge
defesa do irritante
se não é verdade fing
tê-la em dose bastante
mesmo ao pé
A ira só causa dano
sem dar razão a quem tem
é como sujar um pano
sem proveito p’ra ninguém
paciência
O melhor é não ligar
aos que só fúria provocam
é passar e não parar
sem choros que só chocam

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A SORRIR


Queria morrer a rir
ir assim até ao fim
para lá me divertir
a ouvir falar de mim

Muito mal, assim assim
tudo me faria rir
o que quisessem, enfim
continuava a sorrir

Digam coisas, mesmo más
não me fazem deprimir
lá onde só há paz
só teria que sorrir

O pior é se se calam
me olvidam mesmo a dormir
não dizem nada, não falam
deixava então de sorrir

quarta-feira, 18 de abril de 2012

ENGANADO

A rua que m’ensinaram onde ir
a porta com o número que anotei
o caminho que teria de seguir
a difícil rota por onde andei
Tudo com esperança
Sem medrança
porque ali encontraria a felicidade
deixaria para trás a mesquinhez
onde seria pura a amizade
o gosto de viver vinha de vez
Perfeição
Ilusão
porém, depois de muito procurar
por becos e vielas me meter
de ter pensado em não continuar
face à perspectiva de me perder
Parei p’ra respirar
Precisava de m’animar
tinha sido por certo enganado
o que queria ver não existia
tinha tido todo aquele enfado
felicidade total não havia
Avisado fiquei
Mas já não parei
alguém me preveniu pelo caminho
que não valia a pena eu cansar-me
a vida tinha mais do que um espinho
pelo que era esse o conselho a dar-me

Fé que nos cega lá me empurrou
não queria ficar agarrado ao solo
já ninguém ao ouvido me sussurrou
pois era desmedido o desconsolo



terça-feira, 17 de abril de 2012

EU NÃO SOU


Não fui eu, tenho a certeza
Isto é, julgo que não
Se é obra com beleza
Não saiu da minha mão
Porque disso ando à procura
De fazer boa figura
Esperando elogios
E vencendo desafios

Convicções eu não possuo
Dúvidas bailam em mim
Nos melhores não me incluo
Sou como sou, sou assim
O que no caminho vejo
Desde o alto até ao Tejo
Bem me apetece escrever
Se eu o soubesse fazer

Poder-me-á dar prazer
Encher páginas com texto
P’ra me satisfazer
Mas mantendo-me honesto
Depois da página cheia
Sinto ser tudo areia
Que se me solta da mão
Em fuga como ladrão

Nunca sou eu quem produz
O que vale a pena guardar
Por mais que queira dar luz
Não consigo realçar
Dar aos outros certo espanto
Retirar de mim o manto
Para verem que afinal
Não sou assim tão banal

E assim eu cá me fico
Mantendo esse dilema
De que tudo que fabrico
Nunca é coisa suprema
Fica abaixo de tal meta
Seja escritor ou poeta
E que também na pintura
Não farei grande figura

segunda-feira, 16 de abril de 2012

A SOMBRA


 A sombra que vejo e não fala
que não a apalpo mas sei que existe
que me persegue e é bem vassala
daquilo que tudo em mim é triste
essa figura que me imita só no gesto
que repete tudo aquilo que faço
não é acordo nem protesto
mais me parece um bom palhaço

Precisa de luz para me reflectir
pois na escuridão desaparece
avisa-me também para fugir
e volta a surgir quando amanhece
agradece ao Sol o seu esplendor
e é nas ruas que mais se nota
eu sei que sou eu o seu benfeitor
aquele que marca a sua rota

Sombra querida enquanto eu viver
tu andarás bem perto de mim
e ninguém pode jamais antever
o dia em que chegaremos ao fim
da nossa caminhada lado a lado
sendo eu como tu e tu como eu
não existirá mais o nosso enfado
de nos perguntarmos se haverá céu

domingo, 15 de abril de 2012

AMIGOS NOSSOS

Ter amigos nos humanos
quem não tem esse desejo?
Melhor ainda que manos
que nem sempre dão ensejo
                                                          ambição
é uma sorte encontrar
tamanha felicidade
porque sempre pode dar
prova de fidelidade
                                                        comoção
Mas nos homens é seguro
encontrar até demais
o que quero é com apuro
ter amigos animais
                                                           são seguros
que não pedem nada em troca
dão-nos inteiro amor
chega-lhes uma beijoca
para sermos seu tutor
                                                           como muros
O pior é quando humano
sem o mesmo sentimento
sem temer de fazer dano
não cuida do seu sustento
                                                         se desleixa
deixando de ser patrono
já não sendo novidade
o gesto é o abandono
mas que grande crueldade
                                                        sem queixa
Isso mostra afinal
que o homem é bem pior
do que qualquer animal
seja ele o que for
                                                 perverso
por isso prefiro até
amigo de quatro patas
tê-lo aqui bem ao pé
passando horas pacatas
                                               e converso

sábado, 14 de abril de 2012

ACORDAR MORTO

Não tenho medo da morte
é coisa que temos certa
não é por falta de sorte
disso ninguém se liberta

Passam Natais passam férias
a vida corre depressa
se alguns passam misérias
e a outros nada aconteça

À espera por cá se anda
de algo que vem depois
há quem leve vida branda
não precise de outros sois

A todos esses contemplo
e as minhas contas faço
há os servem d’exemplo
e provocam embaraço

A morte tem várias formas
por vezes é traiçoeira
não tem regras e nem normas
muito menos tem fronteiras

Porque mais cedo ou mais tarde
 ter connosco lá vem ela
e sem fazer grande alarde
sempre provoca mazela

Com franqueza não invejo
dos outros o seu conforto
a coisa que eu mais desejo
é um dia acordar morto

sexta-feira, 13 de abril de 2012

RECOMEÇAR

Já era tempo de se respirar
d’enfrentar a vida mesmo que resto
não nos imporem para trás andar
não precisar mais de fazer protesto
quem até hoje aguentou tanto
 que com esperança lá foi vivendo
não é agora mesmo com espanto
que vale a pena gritar não entendo

Se metermos a mão na consciência
se humildade nós apelarmos
não pusermos a menor reticência
abandonando o desenrascarmos
talvez se encontre a solução
p’ro estado a que Portugal chegou
pois que isso está na nossa mão
cada um crendo “o melhor não sou”

Mas é pena pois que heróicos feitos
também tivemos com certa fartura
mas dessas acções tirarmos proveitos
se existiram foi de pouca dura
nunca soubemos recolher partido
que resultasse num bem pr’o País
foi escasso sempre esse sentido
tudo nos passou longe do nariz

Seja qual for a nossa conclusão
o que importa agora é mudar
estamos metidos na confusão
nem se sabe quem pode ajudar
e como um País não corre taipais
colocando letreiro de falência
nem remedeia andar a gritar ais
só nos pode salvar a coerência

Se agora somos mal governados
por quem bem devia fazer labor
e sem se sentirem sequer culpados
dizendo ao povo que “fazem favor”
há muita razão em os querer fora
em despedi-los com chuto no rabo
e pô-los à distância sem demora
não querendo ter mais nenhum nababo

Então depois quem vier a seguir
será capaz de por tudo nos eixos?
Se for igual a Alcácer Quibir
como foram outros tantos desleixos
após catástrofe nós não sabemos
se podemos pôr a casa em ordem
pois em discussões o tempo perdemos
ficando tudo na mesma desordem

Tenhamos então alguma memória
olhemos para trás e reflictamos
é o que nos diz toda a nossa História
sobretudo aquela que aplaudamos
e é pena, porque heróicos feitos
cá existiam com certa fartura
mas sempre os vimos de parapeitos
mesmo os que causaram certa agrura

Nesta altura já se perdeu bastante
o respeito pelo que fomos antes
a luta por esta vida andante
não nos dá tempo que seja sobrante
para reconhecer o bom que fomos
e o mais que podíamos ter feito
enquanto também ver o mal que somos
o que nos traria algum proveito

Ainda que mudar ao que chegámos
não seja obra fácil de assumir
após os males com que carregámos
e pouco ânimo para reflectir
faltando forças p’ra recomeçar
no sítio que tão bem conhecemos
aquilo que se impõe é não parar
esquecendo tudo o que sofremos

Antes do 25 e depois dele
lá p’ra muito longe tentando ver
para um futuro a que se apele
 mais alegre e que se possa ver
o que mantemos é a esperança
de os vindouros serem mais felizes
que lhes chegue a bem-aventurança
de igualarem outros bons países

Se já nem isso conseguirmos ter
então é porque o fim está à vista
como depois da vida há um morrer
até aquele espírito fadista
não ficará para ser recordado
e cantares estranhos cá chegarão
pois que o chorar a ouvir o fado
é coisa que todos esquecerão

Os que ficarem neste canto luso
com outras cores e com outros falares
aos poucos deixarão tudo difuso
pois serão diferentes patamares
tendo já sido apagada a brasa
que era a causa de tanto afligir
pois quem não sabe manter sua casa
deve entregar a chave e partir