terça-feira, 17 de abril de 2012

EU NÃO SOU


Não fui eu, tenho a certeza
Isto é, julgo que não
Se é obra com beleza
Não saiu da minha mão
Porque disso ando à procura
De fazer boa figura
Esperando elogios
E vencendo desafios

Convicções eu não possuo
Dúvidas bailam em mim
Nos melhores não me incluo
Sou como sou, sou assim
O que no caminho vejo
Desde o alto até ao Tejo
Bem me apetece escrever
Se eu o soubesse fazer

Poder-me-á dar prazer
Encher páginas com texto
P’ra me satisfazer
Mas mantendo-me honesto
Depois da página cheia
Sinto ser tudo areia
Que se me solta da mão
Em fuga como ladrão

Nunca sou eu quem produz
O que vale a pena guardar
Por mais que queira dar luz
Não consigo realçar
Dar aos outros certo espanto
Retirar de mim o manto
Para verem que afinal
Não sou assim tão banal

E assim eu cá me fico
Mantendo esse dilema
De que tudo que fabrico
Nunca é coisa suprema
Fica abaixo de tal meta
Seja escritor ou poeta
E que também na pintura
Não farei grande figura

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