quarta-feira, 9 de maio de 2012

QUADRAS SOLTAS

Se eu soubesse que era assim
Tinha já metido baixa
Com poses de perlimpimpim
Quem me pagava era a Caixa

O chapéu atrás da porta
Faz desandar as visitas
Dizia a minha avó torta
Que não era para fitas

Não me venham cá com fitas
Isto não está para graças
Se tu precisares apitas
Já não se usam mordaças

Vem cá abaixo oh freguês
Quem precisa é que se mexe
Quando chega o fim do mês
Aí já há quem se queixe

Quem me dera, quem me dera
Que alguém me respondesse
Que seria desta era
Se o Homem se arrependesse

Se fizesse o mea culpa
E bem no fundo pensasse
Quantos erros sem desculpa
Faria se não amasse

Que fácil é ser político
E não custa mesmo nada
É fazer de paralítico
E ganhar pela calada


O azar paga as culpas
De aquilo que corre mal
Tudo serve de desculpas
P’ro que não se diz normal

Nem de longe nem de perto
Somos todos bem formados
Bem se safa o Xico Esperto
Que não se mete em assados

Fugir ao fisco é que é bom
E fazer negociatas
Até se diz de bom-tom
Fingir que não são magnatas

Portugueses são assim
Pois só em si mesmos pensam
E fazem grande chinfrim
Se os outros os dispensam

Subir na vida bom é
E se for sem trabalhar
Melhor ainda, olaré
Que o trabalho dá azar

P’rós outros são as maçadas
E as regras também p’ra eles
Que venham mais abriladas
Que importa, pois são uns reles !

É boa a democracia
Porque ser livre nos deixa
E gozar no dia-a-dia
Com pouca razão de queixa

A liberdade é assim
Só quem sabe deve tê-la
Mas não pode haver festim
Se outro acaba por perdê-la

O coração bate, bate
Quando te vejo passar
Não sei se é um biscate
Ou vontade de te amar

O cardiologista sabe
Que o ritmo do coração
É tanto que já nem cabe
No peito, sua prisão

É tão bom ter bons amigos
Com quem se possa contar
Pior são os inimigos
Aqui e em qualquer lugar

O vento forte é tremendo
Faz mexer tudo por dentro
Mau também se não entendo
O que me tira do centro

Alentejo sempre foi
P’ra mim sossego e refúgio
Senti-lo muito destrói
Todo e qualquer subterfúgio

Quantas verdades não digo
P’ra não ofender alguém
Fica a vontade comigo
E engulo o meu desdém

Sou feliz sem o saber,
Ou disfarço a tristeza ?
É melhor nem conhecer
Que a resposta se despreza

Choveu muito toda a noite
Abriram-se os céus, Deus meu,
Hoje não há quem se afoite
Que saia sem seu chapéu

Quando saio donde estou
Mudo de sítio p’ra quê ?
Se eu sou sempre quem sou
P’ra mim e p’ra quem me vê

O relógio marca horas
E não pára o maganão
Vê lá se não te demoras
P’ra não vires pedir perdão

A pensar sempre ando eu
Não preciso que m’o digas
Parece que estou no Céu
Mas ando é a fazer figas

Os pombos da minha rua
Andam sempre esfomeados
Mas quando aparece a Lua
Abrigam-se noutros lados

Eu já tive amigos pretos
Conservá-los eu bem quis
Não lhes faltei com afectos
O que faltou foi raiz

Nem vemos o bem que temos
A água é um exemplo
Devemos dizer: poupemos !
E adoremo-la num templo

A nuvem que passa é bela
P’ronde vai é que não sei
Se a contemplo à janela
Digo-lhe adeus, lá irei

É um aviso à juventude
Irrequieta e fugaz
Aquilo que hoje é saúde
Amanhã ficou p’ra traz

Os pobres de não ter nada
Que os há por aí, bem vejo
Deixam-me a alma culpada
Do que em mim é um sobejo

Madressilva, madressilva
Que cheirinho tu me deixas
Mas quando o vento silva
Vai o odor, ficam queixas

Sempre que estou triste escrevo
Não sei p’ra quem nem p’ra quê
É algo em que me atrevo
Mas não sou eu quem me lê

Ler por vício os jornais
É mal de que eu me queixo
Digo sempre: é demais !
Tropeço no mesmo seixo

Onda vai e onda vem
Assim é o mar profundo
Mas esperar por alguém
É o pior deste mundo

Já nem sei se sou capaz
De brincar às escondidas
Pois nem sequer em rapaz
Me entregava a tais corridas

Não te digo que tu digas
Aquilo que não te disse
Pois é bom que as raparigas
Fujam do que é chatice

Dizes que é andar na moda
Vestir o que os outros usam
Não aceites qualquer boda
Que há sempre aqueles que abusam

Também já estudei guitarra
As unhas não foram lá
Não sou daqueles que agarram
Sol, lá si, dó, ré, mi, fá

A imaginação chega assim
Quando a gente mal a espera
Às vezes, chama por mim
Outras, é cara a megera

Q’ria fugir da cidade
E ao campo me entregar
Talvez seja da idade
Pois que seja, quero é ar

Ter vizinhos bons, é bom
Deve ser, diz quem os tem
Cá por mim nem o seu som
Eu aquém, eles além

Quantas vezes estou sonhando
Que este mundo é perfeito
Acordado nem brincando
Que o que existe não tem jeito

Quando eu tinha cabeleira
Farta e encaracolada
Nunca fui de muita asneira
Mas não me serviu de nada

Sonhar de noite acordado
Com coisas boas e más
É passar um mau bocado
Como quem lê: aqui jaz

Fazes anos, parabéns
‘Inda bem que os celebras
Tu tens os anos que tens
És assim, que bom, não quebras

Quantos anos de casados
Fazemos nós, meu amor ?
Arrastamos nossos fados
Mas és sempre minha flor

Cinquenta anos depois
Ver um amigo, é obra !
Mas estamos vivos os dois
É o que importa e o que sobra

Outro mundo é possível
Gritam os ambientalistas
Há que admitir que é crível
Que peçam a Deus os deístas

Há uma rapaziada
Que desanda por aí
Fala uma algaraviada
O português é quiqui

Estou a escrever sossegado
O silêncio ajuda muito
Os gritos vêm do lado
Provoca curto circuito

Acordar durante a noite
É castigo que se sofre
Às escuras não se afoite
A levantar-se de chofre

Quantas vezes me arrependo
De ter feito o que fiz
Paciência lá vou tendo
Vai sarando a cicatriz

Dizia o poeta um dia
Que pensar é não sentir
Se fosse assim nem sabia
Se devo chorar ou rir

Falar muito não tem mérito
O difícil é ouvir bem
Se se fizesse um inquérito
Ia-se aquém e além

Água que corre no rio
E passa p’ra lá da ponte
Aceita o desafio
Dos que a esperam na fonte

Confiaste no meu ser
Contaste tuas desgraças
Minha obrigação é ter
Compreensão com as graças

A amizade é uma lei
Todos temos que cumprir
Tu bem sabes como eu sei
Que não se pode fingir

As verdades verdadeiras
São poucas, contam-se p’los dedos
Nas bocas das palradeiras
Montam-se os maiores enredos

Sim senhor, é desta vez
Que me livro de sarilhos
Já não fico mais freguês
De apertos e espartilhos

Outro mundo é possível
Gritam os ambientalistas
Há que admitir quer é crível
Que peçam a Deus os deístas

Há uma rapaziada
Que desanda por aí
Fala algaraviada
Português é que ni !

Andam alguns por aí
Luzindo belas alpacas
Descobriram, não a vi
Uma árvore das patacas

Há aqueles que faltaram
Na disputa à partida
Foram eles que se armaram
Em carapaus de corrida

Vou sabendo mais e mais
Tal como todos sabemos
Não sendo todos iguais
Cada vez sabemos menos

Ter de valer duas vezes
P’ra ser aceite só uma
É uma das muitas teses
De quem não tem tese nenhuma

Nada disso é verdade
Andam todos a mentir
P’ra atingir a felicidade
Não é preciso fugir













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