sábado, 22 de outubro de 2011

DE MÃOS NA CABEÇA!

SE A SITUAÇÃO TERRÍVEL que se atravessa fosse apenas resultante de uma deficiente política económica e financeira ocorrida em Portugal então poder-se-ia dizer que se encontrava nas nossas mãos a forma de sairmos do actual beco sem saída em que nos debatemos.
Mas não é, de facto, assim. Se bem que nos caibam também grandes culpas por não termos sabido, ao longo dos últimos trinta anos, manobrar com limitação de gastos, o que teria sucedido se os governantes que nos calharam – e são todos os que tomaram lugar em S. Bento – não seguissem uma actuação de desperdício, resultaria agora, neste ano, numa menos melindrosa posição como a que nos causa os maiores calafrios pelo que nos calha já hoje mas, inevitavelmente, pelo que se vai passar já em 2012 e nos períodos seguintes que nos são indicados como temíveis de suportar.
É, pois, esta a peregrinação que nos vai caber em sorte, e se hoje já existem motivos para nós, portugueses, nos arrepelarmos, aquilo que vai suceder já no futuro próximo – porque o mais longínquo não há cartomantes que sejam capazes de adivinhar – é verdadeiramente arrepiante e tira-nos toda a vontade de podermos ser protagonistas de um drama tão medonho.
Se, pelo menos, a Europa comunitária tivesse já juntado todas as suas forças no sentido de se ter formado um bloco de economia que servisse de suporte mútuo, em que os mais fracos (por terem sido mal governados ou por outras razões) recebessem a ajuda dos que estivessem em condições de deitar uma mão, ainda que com condicionantes, não deixando que existissem situações como a que mostra hoje uma Grécia e, dentro em pouco, se lhe acrescentem outras nações que já dão mostras de fragilidade perigosa, se tal unidade estivesse já em acção, então, mesmo que houvesse que suportar as críticas dos que se encontrassem num plano superior, no que se refere ao caso português, bem se poderiam alinhar as economias e as finanças que não foram bem tratadas e, até com empréstimos externos mas controlados por observadores saídos da unidade europeia, lá se levantaria cabeça e, como alunos mal comportados, teriam que ser feitos os trabalhos de casa, que o mesmo é dizer não ficar permanentemente subordinados aos dinheiros que se destinavam a tapar buracos…
Agora, contemplar-se o que ocorre em Portugal, dando como exemplo o que se passa com esquadras de polícia na própria capital que nem disponibilidade têm para cuidar da higiene dos seus guardas, ao ponto dos w.c. não terem água nem esgotos, devendo os guardas da Mouraria, como saiu já como notícia, servir-se das instalações de um café próximo para satisfazer as necessidades básicas, e isso para não referir aqui a longa lista de sérias condições a que chegámos nesta altura, pois são os hospitais públicos com deficiências de toda a espécie e cujos gestores escondem facturas por liquidar para não darem mostras de uma falta de competência que deveria ser castigada, as câmaras municipais espalhada pelo País, com encargos por pagar, as criminosas auto-estradas que, no tempo de José Sócrates, foram encomendadas a eito sem haver a mínima preocupação de saber como nos libertaremos de tamanho encargo, pois que se calcula que o montante que os empreiteiros têm em facturas por receber do Estado atinge mais de dois mil milhões e meio de euros e cuja solução das portagens, ainda que castigando as populações, não resolve o problema, tudo isso e o muito que se encontra numa situação de pendência formam o triste quadro da situação portuguesa.
Como solucionar isto? Será inevitável renegociar com a troika, obtendo bastante mais tempo para se efectuarem os pagamentos e diminuição dos juros que foram aceites nas alturas dos apertos, usando o vício tão nacional do “logo se vê”, deixando para depois as preocupações?
Quando são, neste momento, os próprios bancos portugueses a clamar por dinheiro vindo do Banco Central Europeu, pois necessitam de satisfazer os inúmeros pedidos de financiamento de empresas públicas e privadas e essa é a sua forma de obterem lucros, tanto mais que se habituaram no período antecedente e durante largo tempo a solicitar fora verbas volumosas a juro baixo para emprestarem dentro de portas a juros mais elevados, perante também esta fragilidade que atinge os negócios bancários, chega-se à conclusão que são poucas as áreas que, no seio das nossas fronteiras, apetecem para fazer crescer o País.
Numa altura em que Cavaco Silva, saindo de um mutismo que tem mantido durante demasiado tempo, pois que assistiu a muitas atitudes político-económicas que, para um professor de economia, teriam de merecer uma intervenção, ainda que verbal e com audição pública, até esta maneira nova de prestar contas aos portugueses é motivo para que se levantem várias vozes a criticar a intervenção do Chefe do Estado e, com, razão ou sem ela, a criar um maior mau ambiente num ciclo onde a compreensão e a entreajuda precisa de ser um princípio que esteja sempre presente para diminuir o já tão sofredor estado em que se encontra o nosso País.
A minha posição quanto à falta de intervenção do Presidente da República perante casos e medidas tomadas pelo Governo – este ou outro – já foi aqui referida. O ficar calado sejam quais forem as posições assumidas por quem tem o dever de actuar bem e que, quando falhar, não deve ficar imune às críticas, esse encargo da denúncia cabe a quem não pode esconder-se no mutismo, por muito mal que vão as coisas em S. Bento.

Se, como se passa agora, ainda que o ministério de Passos Coelho esteja a suportar as consequências de umas atrasadas governações, especialmente a última, quando se aceita assumir os cargos não existe desculpa para os maus momentos que o panorama político e económico apresenta.
Se é um cada vez pior o que nos está reservado, pois que se façam todos os esforços, mesmo os impossíveis, para mudar de rumo. E se se torna indiscutível que é preciso renegociar com a troika, então que se percam os complexos por a ideia ter surgido antes dos dois partidos políticos da esquerda mais severa. Baixemos todos as orelhas e não guardemos para depois o que dever ser feito quanto ante

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