quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O INFANTE E CAVACO

O DISCURSO QUE CAVACO SILVA pronunciou em Florença, perante um auditório que incluía figuras de destaque da Europa comunitária que enfrentam, como Portugal, os efeitos de uma crise de que há muitas acusações no que respeita aos causadores principais desse fenómeno destruidor mas de que não se assume a indicação de uma solução responsável para que se passe à fase decisiva da reconstrução do que tem sido abalado seriamente, o referido discurso do nosso Presidente da República terá chamado alguma atenção por parte dos múltiplos meios de comunicação social que assistiram ao que ali se disse, podendo mesmo ser considerado oportuno e útil, porque já faltava há muito uma intervenção de alguém qualificado e oriundo deste nosso País, mas, em minha opinião, tratou-se de uma chamada de atenção excessivamente frouxa para que motive uma reacção de outros parceiros que resolvam juntar-se para que não se fique apenas por uma mera reclamação sem efeitos concretos.
Digo isto porque, estando Portugal a cumprir zelosamente o castigo que constituiu um programa assinado com a chamada Troika, e percebendo-se que, com este andar penalizante para todo um povo que acusa já o seu sofrimento, existem dúvidas se se conseguirá ir até ao fim de tão grande tormento, e tomando-se conhecimento de que se passará idêntica situação nos outros países europeus onde já estão identificadas grandes dificuldades em se libertarem das dívidas assumidas, o que deveria constituir um papel saliente a Portugal era o de tomar a dianteira na criação de um grupo que, no seio da Europa, fosse levantada a questão da exigência de condições especiais em que todo o grupo comunitário daria o seu contributo para que não se assistisse à possibilidade do afundamento completo de um sonho que constituiu o que começou por ser a CEE e que chegou mesmo à conseguir instalar a moeda única, se bem que, se verificasse a incoerência de permitir que uns tantos participantes tivessem ficado de fora no que diz respeito à adopção do euro.
Cabendo-nos a nós, por agora, o cumprimento do acordado com os credores e continuando-se a assumir o pagamento de alguns juros que foram aplicados e que se devem considerar como exorbitantes, só podendo ser chamados de agiotismo, essa nossa posição dar-nos-á uma aposição privilegiada para clamarmos contra as atitudes que Sarkozy e Ângela Merkle, como responsáveis pela França e pela Alemanha, e assumirmos a responsabilidade de arregimentar outros parceiros, com a Espanha incluída, como é mais do que óbvio, que, com um plano elaborado, passasse a reagir contra exigências de credores que, sem dúvida, acabarão por não conseguir receber os pagamentos dos diversos devedores, posto que, se antes do termo de cada dívida os países em causa declarem a falência das suas finanças, nesse caso cada um ficará a exibir as suas facturas para não passarão disso, posto que quem não tem forma de solver os seus compromissos só lhe resta dizer na cara dos credores para irem bater a outra porta.
Não sendo isso que, pelo menos da parte de Portugal, se pretende que aconteça e não sendo possível exigir do povo mais sacrifícios, até porque o risco das manifestações desordeiras e de cabeça perdida têm mostrado, em diversas partes do mundo, que essas posições não solucionam nenhum problema, se os credores se mantiverem com as exigências do impossível então é que será o fim absoluto de uma Europa unida e o futuro negro para todos constituirá uma marca histórica que os nossos descendentes futuros aproveitarão até para se sentirem desobrigados do passado.
Repito, pois, o que penso que Cavaco Silva, na fase derradeira do seu mandato pois não se repetirá a presidência do nosso País, deveria fazer era dar o passo que constituiria também um feito de mais alto grau de uma assunção do Poder: preparar reuniões com os vários países europeus que estejam a prever o descalabro que já chegou à Grécia e que atingirá outros parceiros e ir reunindo forças, tendo a Espanha bem colada a este projecto, para que não possa existir uma contra-ofensiva que só poderá provocar uma revolta popular em diferentes nações que se encontram a lutar contra o afogamento.
O lema deveria ser – queremos pagar -, mas não tornem a vida interna de cada caso numa fogueira em que arderão os milhões de habitantes deste nosso Continente, posto que essa atitude não trará benefícios a ninguém.
Poderá esta ideia parecer completamente louca. E não sei se será! Mas que alguma coisa tem de ser feita sem constituamos, nós portugueses e todos os outros povos que lutam contra todos os malefícios em que o desemprego é uma dos mais difíceis de suportar, quanto a isso julgo que não existirão grandes dúvidas. E como Cavaco Silva, na qualidade de Presidente de um País que ainda vai gozando de razoável imagem, não corre o risco de ser escorraçado do conjunto da ainda existente comunidade europeia, seria um passo histórico que lhe caberia dar, ficando a sua passagem como exemplar e o futuro o colocaria a par de outras grandes figuras que iluminam o nosso album de personalidades marcantes.
Atrevo-me mesmo a comparar esse acto como idêntico em valor ao de um Infante D. Henrique!. E só peço aos meus leitores: não se riam!

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