domingo, 23 de outubro de 2011

NÃO TER VERGONHA

AO CONTRARIO DO QUE afirmaram tanto o Presidente da República como o primeiro ministro portugueses, de que não aceitam que o nosso País se veja na necessidade de pedir perdão das nossas dívidas, pois que isso representa um acto de fraqueza e, a partir daí os credores não facilitarão mais qualquer empréstimo (o que, só por si, significa que não conseguiremos suplantar as dificuldades com que nos estaremos a debater e, nesse caso, será dar a mão á palmatória), por minha parte não temo o tornar pública a minha opinião de que, uma coisa é solicitar às instituições que nos valeram para desistirem de cobrar o que nos facilitaram e outra bem diferente é, estando a cumprir – sabe-se lá com que sacrifícios – aquilo que recebeu a nossa assinatura como garantia de que aceitávamos as condições negociadas, face a essa atitude de gente confiável, como estaremos a demonstrar, o pedir que o tempo da liquidação seja alargado e, simultaneamente, que os juros acima das percentagens normais (e não de agiotas) venham a ser reduzidos, tais obrigações excessivamente duras são susceptíveis de um pedido de moderação do acordo que foi aceite numa situação de grande fragilidade da nossa parte.tirar o partido mais nojento que um rico pode aplicar a um necessitado.
E acrescento ainda que deveríamos ser nós a dar a notícia claramente a todos os nossos parceiros europeus, sem vergonha e antes pelo contrário, a dar mostras de que somos um País que se preocupa em cumprir, mas que necessita de que as atrozes condições postas nas diversas alturas em que recorremos aos dinheiros estranhos foram aproveitadas por organizações com poucos escrúpulos e que, em vez de auxiliar um membro da Europa que se encontrava em dificuldade o que fizeram foi aproveitar-se do mal dos outros para obter benefícios de qualquer maneira. E essa indicação de que foi efectuado um gesto que merece de toda a comunidade de nações europeias a maior repulsa (dado que nenhum dos países que comungam este conjunto, o qual não há maneira de formar o bloco que constituiu sempre a aspiração dos fundadores da CEE), poderá garantir que, mais dia menos dia, não venham a encontrar-se em condições idênticas às nossas e até da própria Grécia, que sendo o País que merece todo o respeito por ter sido o fundador da democracia e situar-se nos antípodas de grande número de povos, não deveria encontrar-se na montra das desgraças, posto que o auxílio que é pedido deveria constituir uma espécie de obrigação de ajuda por parte dos que, situando-se neste Continente, alguma coisa lhes é devida, quanto mais não seja por motivos históricos.
Porém, ao assistir-se ao triste panorama do desentendimento que reina neste velho Continente, faltando dar as mãos como se faz com um parente muito chegado e a quem se deve grande respeito, tudo é de esperar, sendo mais uma razão para que, sendo necessário – e começa já a sê-lo -, se verifica  nesta ocasião uma demonstração de boa vontade e de auxílio aos mais necessitados (mesmo que a culpa lhes caiba por terem procedido erradamente na governação que lhes coube), mas que esse mau paramento também servirá para prevenir em ralação ao que vem adiante.
Ao fim e ao cabo, esta crise maldosa que se instalou um por toda a parte também deveria ser utilizada como escola aos povos e seus governantes que ultrapassaram o nível dos seus gastos e não controlaram o que nunca se deve perder de vista, quer se trate de um indivíduo, de uma família ou de uma nação inteira.
Porém, os seres humanos detestam reconhecer os seus erros e particularmente os políticos, sejam eles quais forem e pertençam a que grupo ideológico seja, não aceitam nunca reconhecer os erros praticados e, no caso português, essa característica tem sido bem demonstrada.
Mais uma razão, pois, para que, ocorrendo os tais maus procedimentos em períodos anteriores e estando os seus responsáveis já distantes do palco das actuações, os que tomam lugar e os substituíram não têm que se envergonhar por pedir auxílio ainda que fora de portas.


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