sexta-feira, 9 de março de 2012

ACORDAR PARA O ACORDO!

TALVEZ POSSA DEIXAR AQUI A IDEIA de que não há mais nenhum assunto de importância que, nesta altura, deva ser encarado a sério pelos portugueses. E eu que, metodicamente, tenho o costume de chamar ao tema deste blogue matérias que se podem classificar de prioritárias, ao pretender referir aqui o caso da mudança, imposta pelos que mandam por cá, de uma parte da língua portuguesa, sobretudo a escrita, acabo por cair no hábito tão nosso de não classificar por mais importantes os assuntos que devem ser tratados prioritariamente, deixando para segundo plano aquilo que pode esperar.
Mas é isso mesmo. É que a imposição feita por aqueles que se consideram senhores com capacidade e saber absolutos para darem ordens aos reles cidadãos, ao ponto de quererem convencer todos os que têm a língua, para além de sua Pátria, o utensílio da comunicação que exercem, essa ordem sem existir controvérsia por parte dos que, sendo portugueses, têm o direito de não concordar (portanto não utilizar) com algo que ultrapassa a simples lei de mudar de direcção e de alterar algo que não ponha em alvoroço todos os que não queiram submeter-se à forma de escrita dos outros países de expressão portuguesa, por sinal língua que utilizam e que foi levada por nós, séculos atrás, e que, por exemplo, no caso de Brasil, já foi evidenciado algum desacordo no que diz respeito às mudanças que, em Portugal, se passam a seguir, situação esta que se tem arrastado, pois foi aprovada há 22 anos, no tempo do Sócrates, e só agora é que alcançou a decisão de ser aplicada em todos os documentos públicos. Uma vilania à língua!
De facto, uma língua não se munda por decreto. E as alterações que vão surgindo, ao longo de anos, por vezes séculos, não provêm de uma determinação política, mas são oriundas dos usos dos praticantes que, também por facilidade de expressão e, quantas vezes do povo menos erudito, surgem mudanças que o ouvido passou para a escrita. O exemplo da palavra “combro” que é o resultado de “cúmero”, cimo, e que acabou por dar o nome à calçada em Lisboa, é um desses casos, como não admira que, daqui a alguns anos, a palavra “câmara” passe a escrever-se “Cambra”, devido à dificuldade do falar corrente aceitar muitas vogais na mesma palavra. Mas surgir essa mudança por decreto, em lugar de deixar que a língua caminhe pelo seu próprio pé, isso é que não pode ser aceite.
Para mais, para os que escrevem nos computadores, se esses instrumentos não foram adquiridos já com a mudança técnica introduzida, para cumprir a determinação oficial são obrigados a mandar proceder à alteração, e os que já utilizam os modelos mais recentes, caso pretendam escrever o português na versão ortográfica de que não querem afastar-se, terão também de mandar corrigir tais máquinas.
Mas o importante, ao fim e ao cabo, é discutir-se se é legítimo que, por decisão oriunda da área política, devem todos os portugueses submeter-se a mudar a forma escrita que utilizam, criando-se as maiores confusões no que diz respeito, por exemplo, às vogais tidas como mudas, que se passam a eliminar, mas não todas porque existem as excepções e essas originam as faltas com que se vão deparar muitos textos que serão divulgados. Não vou aqui apontar tais excepções (com “p” ou sem ele?), posto que não me sinto com vontade de introduzir mudanças na língua que eu tanto prezo e que me tem acompanhado ao longo dos anos. E isso sucederá a muita gente que, não se encontrando na idade de reaprender o idioma com que nasceu, não estará disposta a passar a cometer erros, coisa que não sucederia com a ortografia que utilizava antes.
Não me insurjo com a mudança, ao ponto de fazer acusações para não correr o risco de poder chamar à liça termos ofensivos e despropositados que se dirijam a quem, no Governo de Sócrates - pois foi nessa altura -, decidiu introduzir o malfadado Acordo. Mas lá que não gosto da mexida que se encontra ainda na primeira fase da aplicação, lá isso não escondo: detesto!

Sem comentários:

Enviar um comentário