domingo, 18 de dezembro de 2011

ESTÁ VIVO E RECOMENDA-SE!

QUEM JULGA QUE O NOME do filósofo que soou nos nossos ouvidos lusitanos ao longo de uns tantos anos, mas com postura de político que teve nas suas mãos os destinos de Portugal quando as circunstâncias lhe permitiram ser o escolhido para comandar um Governo, os que admitiram que a sua imagem não surgiria tão cedo na nossa tão perturbada memória, de repente, oriunda lá de terras estrangeiras, nas funções de professor de alunos que, no exterior, querem aprender a nossa língua (pelo menos é essa a ideia que deixou naquele sua intervenção), eis que a sua presença foi captada pelas televisões que, sem pejo, a transmitiram para o nosso conhecimento e em que, ouvindo a sua voz, ele debitava conceitos que, num ambiente como o nosso, em que, na maioria dos casos, não haveria um grande apetite em escutá-lo, foi logo objecto de críticas e de um certo desconforto.
Mas, o que foi que, desde Paris, a personagem que não deixou saudades nem, pelos vistos, no próprio Partido onde foi secretário-geral, terá lançado através das técnicas televisivas que transmitem em segundos para todo o mundo? Pois, nada mais, nada menos, do que o conceito de que as dívidas que se contraem “não são para serem pagas”, o que, logo que o José Sócrates teve conhecimento da má impressão que deixou em Portugal esta sua intervenção, se apressou a esclarecer que o que queria dizer era que as dívidas soberanas “não se pagam todas de uma só vez”, fazendo aquilo que o então político, gora estudante em França, não fez, e que era gerir a dívida de modo a que não provocasse um aperto tão aflitivo que possa fazer chegar ao ponto de não haver forma de pagar os salários dos trabalhadores do Estado.
Claro que, se José Sócrates não tivesse saído da governação com os efeitos que constituíram a causa da deplorável situação económica e financeira com que nos defrontamos agora, esta sua afirmação – excluindo a de que “pagar as dívidas é coisa de crianças” - , até a sua presumível intenção da frase proferida poderia merecer uma certa concordância, posto que, se quando os países se encontram numa posição muito penosa, são forçados a aceitar as condições, com juros exploratórios, que os credores apresentam, posteriormente e já com outras possibilidades de dar início ao cumprimento dos respectivos pagamentos fraccionados, aí será altura para se procurar renegociar as datas e os juros castigadores que a situação passada obrigou a serem aceites. Quanto a isso, no meu ponto de vista e mesmo que se possa discordar, em teoria, da falta de cumprimento do que foi aceite anteriormente, o facto de outros se terem aproveitado da aflição num determinado momento, só isso proporciona que, tempos depois e sem deixar de se assumir a dívida, se usem os meios leais de renegociar o pagamento.
No que se refere a prazos como no que respeita a juros que terão sido aplicados na hora dos pedidos, se, nesta altura, a dívida pública portuguesa está a suportar uma taxa de juros a 10 anos de 13%, esta situação terá de ser alvo de novo estudo, posto que, se o Mecanismo de Estabilização Europeia, que irá substituir o actual Fundo (FEEF), o que irá fazer com que o está disposto para que Lisboa, em meados de 2012 (quando a previsão de ter de liquidar mil milhões de euros para a criação de novo Fundo, era em 2013), faça a entrega prevista (será de 200 mil milhões de euros o que compete aos países europeus e isso para reforçar o FMI, o que quererá dizer que, a Portugal, caberá um encargo de 3,5 mil milhões de euros, podendo, no entanto, o nosso País não aderir ao acordado, como sucedeu com a Irlanda), essa situação constitui uma porta aberta para que o nosso País, excluindo declarações inoportunas dos políticos quanto a medidas severas que se devem tomar, pondo de sobreaviso os credores que, naturalmente, não ficam satisfeitos com “ameaças” vindas dos seus devedores, possa, com toda a habilidade de trato, dar início a renegociações que permitam aliviar a tão áspera posição em que se encontram os cidadãos, correndo-se o risco de se vir a verificar o que já sucedeu, por exemplo, na Grécia e noutros países, em que o povo, excessivamente confrontado com todas consequências provenientes da escassez de meios de vida, é largado nas ruas a dar azo aos seus protestos, com as acções que são bem conhecidas de malvadezes de toda a espécie e que não cabem, de forma nenhuma, no cumprimento dos meios democráticos que, a bem de todos, não devem ser afastados.
É tudo isto que deve ser levado em conta no que diz respeito às renegociações das dívidas no seu todo, por um lado, para que seja dada alguma folga ao habitantes lusitanos, agora excessivamente jugulados, e, por outro, dando confiança inequívoca aos credores de que os seus empréstimos se encontram em mãos honestas que, sabendo-se devedoras, apenas requerem um aumento de prazo sem o castigo dos juros que lhes são aplicados. Não será de reflectir sobre isto, mas evitando, porém, as afirmações mal-educadas e só criadoras de mau ambiente que prejudicam que se chegue a acordo das partes?

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