sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

FALAR POR FALAR...

A NOTÍCIA DE QUE o número de casas que estão a ser devolvidas aos bancos portugueses, em virtude da impossibilidade bem generalizada dos habitantes de pagarem as prestações que lhes cabem e que são consequência dos empréstimos feitos antes para efeitos de aquisição dessas mesmas residências, tal triste informação deveria merecer dos nossos governantes algumas medidas que pudessem aliviar, por um lado as instituições bancárias e, por outro, os próprios desalojados dos lares que, na maioria dos casos, serviram de guarida a casais jovens que, com essa facilidade oferecida pelos empréstimos, juntaram trapinhos e foram à luta com certa confiança.
Independentemente de alguma (bastante) pouca prudência por parte dos adquirentes em terem dado esse passo sem medirem com realeza os meios de que dispunham para poderem cumprir os termos dos contratos assinados – pois que a garantia de pagamento é sempre assente nas próprias casas, isto é, o de terem de as devolver ao credor, o banco que fez o empréstimo -, o certo é que não foi prevista na altura a pouca segurança em relação aos empregos que dispunham ambos os membros do par devedor e muito menos os aumentos, em certos casos substanciais, nas prestações mensais, o que tornaram impossível o cumprimento do que tinha sido assumido.
O resultado de tudo isso é o que se contempla nesta altura, ou seja a ausência de meios financeiros que possam suportar a referida obrigação que, quase sempre, teria de ser mantida ao longo de muitos anos, mas que, dentro de uma lógica primária, entre pagar um aluguer toda a vida e suportar o custo de uma compra que, se fossem cumpridos os requisitos, acabaria por ser entregue a propriedade ao comprador/cumpridor, esta segunda premissa era a mais desejável, nem que acabasse a aquisição nas mãos dos descendentes.
É evidente que a mudança de padrão de vida que atingiu grande parte do mundo e que na Europa se tem sentido particularmente (e que em Portugal, devido também à má governação que teve de ser suportada, deu o resultado que está à vista), tudo isso fez com que aquilo que se podia considerar como uma medida prudente até há três a quatro anos atrás, face à realidade que hoje se atravessa não constitui um passo acertado, se bem que, no nosso País, os preços dos alugueres de sítio para morar sejam de tal maneira elevados que tornam essa simples necessidade como uma atitude quase impossível de tomar.
E é aí que eu considero que os governantes devem interferir. Por um lado, metendo mão nos preços de aluguer que os bancos marcam nos locais que lhes caem nas mãos devido a créditos mal parados, pois que os montantes que já foram entretanto liquidados devem interferir na redução das tabelas de venda ou de aluguer e, por outro, a governação tem de impedir que as muitas residências que, de diferentes senhorios, se anunciam estar disponíveis para receber locatários (e isso, especialmente em Lisboa e na baixa da cidade, para que não existam zonas que, sobretudo desde os fins das tardes, dêem a ideia de se encontrarem desertas), apresentem preços de aluguer tão elevados que dêem ocasião a que o problema atrás descrito fique por resolver.
São decisões deste tipo que a mim me parecem dever constituir uma preocupação permanente dos vencedores das últimas eleições e que deram ocasião a que tomassem posse na formação do Governo nacional, pelo que o PSD e o CDS têm sobre si a responsabilidade de não retardar as medidas que se impõem para que o amargo confronto que os portugueses suportam com a realidade da vida actual deixe de ser tão angustiosa como ela está. Milagres ninguém faz e o “estar-se marimbando” - como um membro do PS deixou sair da sua boca ainda ontem, para as dívidas que temos de liquidar aos vários emprestadores estrangeiros -, isso é um risco que Portugal não está em condições de sofrer, pois as notícias correm mundo em segundos, e se, realmente, como tem de ser admitido, chegar uma altura em que as receitas obtidas não cheguem para cumprir o nosso dever de liquidar, então poder-se-ão negociar os prazos e também os juros, mas nunca afirmar antecipadamente que “pregaremos o calote”.
De facto, termos procedimentos de “criança” - para usar a expressão infeliz de Sócrates há dias – é querermos que brinquem connosco e nos preguem partidas que nos deixem com os dentes partidos e os joelhos todos esfolados.
Eu bem gostava de ter em miúdo uma bicicleta, mas não consegui que ma dessem, o que foi melhor para não ter tido qualquer acidente!...
Ainda a tempo e acabado de assistir à entrevista dada por Paulo Portas à RTP, sendo provável que volte a este tema em escrita próxima, não quero deixar de salientar que, como velho jornalista que entrevistou por esse mundo tantas celebridades, não me conformo ao presenciar uma jornalista daquela televisão que não foi capaz de, primeiro, pôr na ordem o entrevistado, não o deixando ocupar o tempo com simples propaganda pessoal – nem sequer política – e enrolando-se nas respostas; depois faltando assistir-se a um questionário que, esse sim, bem comandado não permitiria que o que é ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros se pretenda meter nas funções de chefe do Governo, perdendo-se a ocasião para ouvir dele o que pretende fazer na área do AICEP, visto que a sua conduta passou há pouco para a sua alçada e, nessa tarefa, aí é que há que esperar que o que foi alcunhado do “Paulinho das feiras” mostre agora condições para contribuir generosamente para fazer evoluir a área económica que tanto necessita que aumente em Portugal. E sobre este assunto já aqui deixei o meu ponto de vista, pelo que não o repito agora.

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