domingo, 4 de dezembro de 2011

O QUE NOS RESTA



QUE IMAGINAÇÃO TERÍAMOS DE POSSUIR para podermos ter previsto que, bem longe já da tão antigo acontecimento histórico, passados cerca de 500 anos sobre a data que marcou a descoberta por antepassados nossos das Terras de Vera Cruz, surgiríamos, desta vez como pedintes, a solicitar a ajuda de um País, já muito crescido e com ares de padrinho bem na vida, implorando o apoio financeiro e económico para podermos sair da situação de penúria em que nos encontramos?
É certo que foram até reis nossos que, instalados naquelas paragens, entenderam que deveria aquele povo dar o grito do Ipiranga e proclamar a independência, pois que os habitantes lá naturais também foram criados por nós através do transporte de população vinda de África e que participou naquela nova mistura em que o nosso sangue, tal como a língua que levávamos, com as respectivas diferenças, tornou possível que, o que é hoje um grande País, se apresente ao mundo impondo respeito e largueza de vistas.
Durante várias gerações o Brasil serviu-nos para depositar nas suas terras vagas de lusitanos que ali procuraram colher riqueza que depois seria transposta para a nossa Pátria natal. Participámos, portanto, no desenvolvimento daquele enorme espaço, se bem que a actuação que nos coube se limitasse a actividades menores, como foi a de padeiro que não merecia grande respeito por parte dos que lá nasciam. Mas, com o hábito que nos caracteriza de criarmos famílias nos pontos para onde nos deslocamos, os luso-brasileiros constituíram as fornadas de filhos de emigrantes que, por sua vez, alargaram a mancha de habitantes que é hoje muito numerosa e em que bastantes deles nem tiveram ocasião de conhecer a Pátria dos seus antepassados oriundos do outro lado do Atlântico.
Ainda recentemente, nas duas últimas décadas, já depois do 25 de Abril, em que as circunstâncias de vida no Brasil não se apresentavam benéficas para os seus naturais, verificou-se uma mudança de direcção de emigrantes, pois que a aparência de Portugal atravessar um período de enorme bem-estar era convidativa para acolher os desejosos de beneficiar das vantagens de falarem a mesma língua que nós.
Só que as coisas se alteraram e constatou-se que, afinal, esse aspecto de fartura portuguesa não passava de pura ilusão e, ao mesmo tempo, do outro lado do Atlântico se descobria que, ali sim, a economia se encontrava numa fase de desenvolvimento que contrastava com a penúria que se instalara na Europa, de uma maneira geral e em Portugal em particular, pelo que o regresso de muitos dos antes emigrantes brasileiros à que é considerada, pela sua dimensão como sendo a 5.ª maior nação do mundo, passou a constituir outra realidade.
Aí, a irmandade que sempre se proclamou do nosso lado, veio ao de cima, tendo evidentemente um peso maior a circunstância do crescimento económico brasileiro que, neste século XXI, arredou as simples emigrações nos dois sentidos ocupando esse espaço a iniciativa empresarial, aquela que, do nosso lado, provoca um interesse muito mais aberto, pois os investimentos oriundos do estrangeiro são os que tanto desejamos, quer no capítulo da aceitação das nossas exportações seja, especialmente, os investimentos que possam alargar a nossa pouco relevante produção e, por via disso, a diminuição do terrível panorama do desemprego que cá se verifica.
Em conclusão, pois, mais do que nunca as relações amistosas entre a nossa Terra, em situação precária, e a Pátria irmã que atravessa um período de prosperidade, é um objectivo que deveria ocupar toda a nossa atenção e fazermos todos os possíveis para que transformemos essas relações amistosas num apoio verdadeiramente concreto, sabendo-se que, naturalmente, ninguém contribui para aliviar as penas de outros sem poder tirar daí algum proveito. Por isso, as empresas que se anunciam agora como estando na disposição de serem vendidas a investidores estrangeiros, no caso de merecerem a atenção desses nossos irmãos a eles devemos dar preferência, tanto mais que, com o exercício da língua nacional comum, todos beneficiamos com a junção.
É chegada, pois, a altura de abrirmos bem os nossos cérebros e de procurarmos fugir dos erros que, nas temporadas próximas que nos antecedem, tanto têm encontrado amplo campo de acção para nosso mal.
Vamos a ver se é desta que acertamos os passos. E já que a Paulo Portas foi entregue a oportunidade de tomar conta da área da expansão comercial para lá das nossas fronteiras, acreditando nessa sua habilidade de bom vendedor, mesmo que exista uma grande diferença entre o calcorrear as feiras, a vender-se a si próprio, e o propagar os nossos produtos por esse mundo fora.
Aguardemos, com não muita devoção, por um mínimo de resultado que o Paulinho consiga, sendo que é agora que a sua habilidade se encontra à prova e que não pode ser disfarçada, como é habitual suceder na classe política, sempre que os êxitos não surgem ao de cima.
Não temos mais recursos a que deitar a mão e será bom que, como derradeiro esforço, possamos ver a nossa economia desabrochar do adormecimento em que tem estado de papo para o ar.

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