terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NATAL - HÁ SEMPRE QUEM FESTEJE

AGORA, QUE ESTAMOS A POUCOS DIAS DA DATA natalícia, volto aqui a referir que me sinto novamente, ao longo dos oitenta e um anos que já cumpri, como atravessando um período de tristeza, pois que, certamente ao contrário da maioria dos cidadãos, desde sempre não me traz a alegria que é tão habitual e em que uns desejam aos outros as típicas “Boas Festas”, que são retribuídas pelos que recebem essa saudação.
É verdade que eu não sou um grande entusiasta pelas datas que mercam qualquer acontecimento ao serem recordadas. Festejar em colectividade não representa, no meu entender, uma obrigação estabelecida pelo calendário. Não sendo, portanto, apenas o 25 de Dezembro que me arrasta para pensamentos nada alegres, pois nos Carnavais e em todas as manifestações que decretam o hábito de marcar a sua passagem, o que poderá querer representar uma certa indisciplina que, só nestas circunstâncias, se revela.
Mas, este ano, atravessando uma forma de vida que, no caso de portugueses, sentimos ser da maior precariedade e sem esperanças de podermos assistir a uma mudança para melhor, a situação não é, de facto, propícia a festejos, sendo que, por esse País fora, a maioria das famílias sofrem as consequências penosas que os desempregos provocam. E quando o seu número já atingiu as sete centenas de milhar e, para a juventude, até os governantes recomendam a saída para o estrangeiro, não consigo descortinar qualquer motivo para festejarmos o dito “feliz” Natal.
Não escondo que, no meu caso, as lembranças do passado, até da minha infância, não me ocasionam uma sensação de alegria, pois que essa peregrinação de ir ansioso à chaminé ver o que foi colocado no sapatinho, esse gesto que, pelo menos antes, provocava na criançada um desejo de descobrir como se comportou connosco o Pai Natal, tal inquietação não ocorreu comigo. E nem sei se me fez falta não ter vivido esse momento.
No que diz respeito ao seguimento da prática religiosa, por aí não tenho motivo para lhe sentir a falta. Pois sempre assisti, à meia-noite, às três missas do Galo, e, aos domingos tinha de participar com a vestimenta vermelha e segurando na vela comparticipar nas orações que, na Igreja de S.Cristóvão, tinham lugar a seguir à missa. Da mesma maneira que, anos mais tarde, como acólito, e em latim, ajudava ao Sacramento que o Padre Cruz rezava, ansioso sempre pelo seu terminus para, logo a seguir irmos, vários jovens, para a praia de S. João do Estoril até à hora do almoço.
Faço este relato para demonstrar que a minha infância não ocorreu longe da prática cristã. E talvez seja mesmo o excesso que provocou o meu afastamento a partir da altura em que a cabeça que tinha sobre os ombros me proporcionou a faculdade de pensar e de fazer comparações entre o que os chamados Livros Sagrados, feitos pelos homens, apelavam e o que os seres humanos, com que me deparei ao longo de todo o meu trajecto de vida, mostravam nas suas acções. E as interrogações sucederem-se, sem respostas que me convencessem de que existia algo que, lá do alto, deveria ir transformando para melhor o que era a constituía ser a Sua criação. Sem certezas, fui apanhado pelas dúvidas e, pelo menos enquanto não aparecer a explicação do que é isso do Infinito, conservo-me de pé atrás e aceitando apenas o que é impossível contrariar: a nossa morte.
Aí está, pois, o motivo por que não me sinto feliz nesta data do Natal. O presépio, a Virgem Maria, os Reis Magos, tudo isso que me foi incutido na cabeça não ocasionou que eu me sinta alegre e satisfeito com aquilo que é oferecido à vida do ser humano. Festejar o quê? As guerras? A fome que atinge tantos milhões de habitantes do Globo? As doenças que atinge muita gente em todos os sítios?
E agora em Portugal: este arrastar de uma vivência sofrida e cada vez com menos esperanças de se ver uma melhoria, pode dar azo a festividades?
Cada um tem os seus motivos, de sim e de não. Há que respeitá-los e, especialmente junto das populações que se vão mantendo com convicções que lhes foram transmitidas e sem capacidade para reflectir, a esses felizardos não há que procurar chamá-los à realidade.
Este meu blogue provavelmente não chegará às mãos dos que, nos seus recantos, não têm contacto com os “infelizes” que se preocupam em descobrir as “verdades”. Ainda bem!”

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