sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

MUDAR A EUROPA - SIM OU NÃO?

É JÁ A TERCEIRA VEZ e em Bruxelas que, este ano, se realiza outra Cimeira do Conselho da Europa, depois da que teve lugar em 21 de Julho e da que ocorreu em 26 de Outubro, datas estas que tive o cuidado de reservar pois que se trataram de encontros entre os que mais procuram destacar-se na busca de obter soluções para que o Continente solucione os problemas de conjunto, mas tendo sempre presentes os seus interesses em primeiro lugar, e por isso, por via dos homens que não perdem o seu grande defeito do egoísmo, não têm correspondido aos objectivos que os fundadores da então CEE tinham em vista. Passou-se de cimeira em cimeira sem resultados!
Desta volta, está a ter lugar hoje e continua amanhã a referida Cimeira, na qual se antevê a preocupação da busca, uma vez mais, de se tentar ultrapassar os problemas com sobretudo a disciplina e tentar encontrar soluções para resolver o estado em que a Europa se encontra, tendo cabido, nesta altura, à parelha Sarkosy/Merkel, o encargo de chamar a si a decisão de se discutir, sobretudo, o poder que se atribui ao Banco Central Europeu para interferir na liquidez dos bancos mais fracos dos países que se situam na área da Comunidade, cabendo-lhe o papel de atribuir as taxas de juros que se pretende que sejam baixas e, eventualmente, de decidir sobre a eventual desvalorização do euro, para efeitos de alívio das empresas exportadoras dentro da área que lhe cabe de intervenção, não se excluindo, claro, a incumbência de produzir a moeda, para que não se verifique uma escassez do euro que, nesta circunstância, muita falta faz em determinadas praças.
Mas admite-se que não serão somente essas as preocupações dos mandantes dos países presentes, pois serão outras as debilidades que chamarão a atenção dos mesmos no encontro de hoje e de amanhã. Por exemplo, talvez conceder a permissão aos países, com mais dificuldades financeiras, do não cumprimento rigoroso das dívidas existentes, negociando as formas de pagamento, incluindo-se nesse grupo a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e até a Itália, o que sendo, por um lado, um certo alívio para as finanças respectivas, por outro prolongará por mais alguns anos o período de recessão que, no nosso caso, se encontra já a ser fortemente sentida. É uma hipótese, mas não pode haver garantias de que tal proposta venha a ser adoptada.
Outra ideia, que paira nos pensamentos de alguns participantes e poderá ser apresentada por algum parceiro mais exigente, e que nos periódicos europeus tem vindo a ser relatada em letra de forma, é a possibilidade de ser proposta a expulsão da zona euro da Grécia, não contando certamente esta tese com muitos adeptos, posto que essa tomada de posição retiraria o princípio estabelecido desde o início da CEE, da entreajuda e nunca a da perseguição.
Verdadeiramente inqualificável será a proposta que poderá surgir de se constituírem duas zonas dentro do espaço europeu: uma para os membros ricos e outra para os Estados que lutam com grandes dificuldades, sendo que a Alemanha e a França fariam parte do primeiro grupo. Neste caso, o novo euro, também ele a ser criado, ganharia um valor superior ao actual, sendo que os restantes países seriam vítimas de um declínio profundo. Também esta possibilidade é considerada como uma aberração, pois que nessa circunstância se criaria um ambiente na Europa que poderia fazer regressar o espírito de uma nova guerra localizada inicialmente neste Continente mas que poderia muito bem alargar-se para o resto do mundo.
Só que, desta vez, e em comparação com a que teve lugar no tempo do Hitler, as consequências seriam devastadoras, se bem que a redução do número de habitantes terrestres, que é nesta altura acima dos sete mil milhões, pudesse constituir uma saída para o vasto desemprego que reina por toda a parte e o que seria necessário reconstruir e edificar por esse mundo fora constituísse uma forma de utilizar muita mão de obra e maquinaria moderna que pudesse dar esperanças aos habitantes desse então de que se entraria num novo período de bem estar. Nem vale a pena expor uma opinião quanto a este improvável acontecimento, pois que não se vislumbra coragem de qualquer dos membros europeus para levar por diante o que estaria na base da ocorrência pouco provável.
Todos estes prognósticos são desejáveis que não passem de suposições, dado que sendo o Homem um elemento em que não se pode confiar antecipadamente e é ele que tem vindo a escolher, pela História fora, as caminhadas que a Terra se vê forçada a percorrer – e, sobre isto, tenho uma peça de teatro, escrita por mim há mais de 40 anos, intitulada “E a Terra, indiferente, continua rodando”, que mereceu um prémio na altura e a própria D. Amélia Rey Colaço desejava apresentar no Teatro Nacional, mas que a Censura, tendo sido consultada como ela sempre fazia, a desaconselhou a pôr no palco -, na vida real essa catástrofe não pode constituir uma aspiração da generalidade dos habitantes do nosso Planeta.
É evidente que, na situação que se vive no continente europeu, a iniciativa tomada pela parceria francesa e alemã de promover esta Cimeira, no meu ponto de vista não existem razões para criticar tal proposta, sendo que cada participante tem obrigação de apresentar os seus pontos de vista que, obviamente, podem não condizer com as opiniões de outros membros, mas isso é a Democracia: saber ouvir e apresentar as propostas que mereçam ser discutidas. A atitude da Grã Bretanha em que, logo à chegada a Bruxelas do seu primeiro-ministro, foi declarado que não aceitará qualquer proposição que não beneficie o seu País, essa afirmação não se pode considerar exemplar e mais admiração provoca por ter saído da boca de um político natural da Terra onde a prática democrática está sempre presente nas acções de cada dia.
Por isso, é difícil antecipar conclusões que, no sábado à noite, serão apresentadas ao mundo e à Europa em particular. Nunca se sabe qual vai ser o futuro. E esta Europa em que vivemos não dá garantias nenhumas de que seja capaz de dar as mãos honestamente e de constituir um bloco que atenda a todas as necessidades que os membros do Continente tanto reclamam.
Se o quadro que for demonstrado no final da Cimeira não der mostras de uma unidade expressiva de conclusões, se tudo ficar na mesma ou quase ou se forem banais os acordos firmados pelo 27 ou pelos 17 – logo se vê -, então bem se poderá esperar o pior e todas as cabeças mandantes do nosso Continente terão de assumir total responsabilidade pelo que suceder a seguir.
O dia seguinte à Cimeira ficará na história, ou pelo bem ou pelo pior…

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