segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ORTOGRAFIA NOVA(?)

QUEM TEM COMO HÁBITO OU ATÉ COMO PROFISSÃO escrever muito, como é o meu caso, é evidente que se sente mais incomodado pelo facto de ter que actualizar a ortografia do português, e ainda mais porque o computador, não estando em dia com a mudança que se está a operar na escrita da nossa língua, marca erro se passamos a retirar as chamadas letras mudas nas redacções que temos pela frente. Mas, para além disso, a realidade também reside na circunstância de quem redige os seus textos não se encontrar de acordo com as razões da mudança que é imposta por uns tantos auto-designados mentores da nossa língua que se prestam a colocar o português subalternizado, ao que se diz e escreve, em países que, não sendo ainda nessa época, receberam, séculos atrás, a nossa forma de falar e de escrever, quando foram os lusitanos que lá chegaram nas caravelas e transferiram a nossa cultura para África e para o Brasil.
Enquanto puder, por minha parte não me subjugo a essa patetice que é a de passarmos a escrever com erro aquilo que recebemos de figuras maiores da nossa literatura, como foi Luís de Camões e mais tarde Fernando Pessoa – para referir apenas estes dois, mas o exemplo vem de inúmeras personalidades que honraram a Pátria com as múltiplas obras que não podem ser consideradas como ultrapassadas, antes marcam a riqueza e o génio dos seus autores.
É verdade que as línguas não devem passar a ser classificadas mortas, pois que é o seu uso, especialmente pelos povos, que vai modificando a forma de expressão e de registo escrito. Mas essa actualização é introduzida lentamente, levando até séculos a ser oficialmente aceite e nunca por imposição através de decreto, com data concreta que os poderes estabelecem. Há múltiplos exemplos dessa prática, como, por exemplo, a palavra “combro”, utilizada no nome da calçada em Lisboa, que surgiu por o povo ter dificuldade em expressar as vogais e neste caso ter vindo a emendar a fala alterando a designação “cúmero”, sinónimo de alto, como provavelmente acabará por acontecer um dia na designação de “câmara”, em que poderá passar a “cambra”, na expressão de município.
Mas temos de reconhecer que, por via das modernas tecnologias, especialmente nas mensagens que são enviadas pelos telemóveis, a nossa rica língua sofre tratos de polé e não se verifica que nas escolas surja uma revolta dos professores, obrigando a rapaziada a não maltratar o que os nossos antecessores fizeram questão de conservar e apurar. Essa do “logo mais”, que as televisões através dos seus locutores e apresentadores que, em muitos casos dão mostras de incultura, tanto espalham, casos como esse é que assustam e indignam. Deveria, isso sim, merecer uma atenção especial daqueles que actualmente se preocupam em destruir a nossa língua, forçando a que nos ajustemos às que são originárias da que é a Mãe: o verdadeiro português.
Nem os exemplos que poderiam ser observados no que ocorre com a língua inglesa, falada em uma enorme variedade de nações, como os E.U.A., parte do Canadá, Austrália, África do Sul e muitos outros locais, e em que não se assiste a uma mudança do original no País onde nasceu só para se igualar às formas, sobretudo de falar, dos povos que adoptaram a que lhes foi ensinado, com as alterações próprias das localizações e das influências recebidas de origens várias, nem esses casos servem para que, cá por casa, não nos deixemos timidamente subjugar com o que cada lado entende modificar à sua moda.
Enquanto puder e provavelmente até ao fim da minha actividade literária, não modificarei a maneira de me expressar e de registar no papel ou no computador o que tenho para comunicar em português. Amo demasiado a minha língua para desprezar o que me foi ensinado e bem, pois bastou o ter passado, ao longo da minha aprendizagem escolar, por mudanças que, apesar de tudo, não sofreram a alteração tão radical e tão injustificada como aquela que pretendem agora introduzir.
Que se passará daqui a anos, quando os estudantes de português forem obrigados a ler Camões, Gil Vicente, Camilo, Eça e também, como será óbvio, Fernando Pessoa, e constatarem que não se reconhecem na língua que era utilizada anos atrás?
Não é um progresso, mas sim um retrocesso aquilo que os assassinos da bela língua pátria andam a fazer. É inegavelmente o “portuguesismo” dos nossos dias, a demonstração de que não somos capazes de enveredar por um caminho devidamente estruturado, quanto mais não seja tentando que nos seja reconhecida pelo mundo, sobretudo aqueles que, como países, são bastante mais novos do que o nosso, a preserverança em mantermos com honra os princípios dos nossos maiores, dos que fizeram História, ainda que tenha sido há longos anos… porque a presença recente de Portugal, especialmente desde o início do século XX, não é coisa que valha a pena recordar.

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