sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

QUAL DEMOCRACIA?

ACABO DE TOMAR CONHECIMENTO pela televisão que, numa sondagem ocorrida no nosso País, uma grande parte de opiniões dava mostras de que os portugueses se encontram insatisfeitos com a Democracia praticada por cá. E, para além desse apuramento, um determinado número de respostas não escondeu que seria preferível, na situação actual, que se instalasse um Governo sem partidos e que, com mão firme, obrigasse os cidadãos a conduzirem-se sob normas rígidas estabelecidas.
Este “apalpão” sobre o que pensam uns tantos nacionais, sendo preocupante é, para além disso, indicador de que a prática da Democracia que aqui se instalou depois da Revolução de 25 de Abril, leva a que uma parte apreciável de portugueses, certamente nascidos depois do período longo da actuação salazarista, não tenham uma ideia precisa do que representa para um povo ter de agir constrangido, sem poder expressar as suas opiniões e sujeita a um apertado sistema que tem a polícia política sempre a perseguir os que não batem palmas ao sistema implantado.
E é por isso que eu tenho insistido em divulgar a minha opinião de que é fundamental que a prática democrática seja ensinada aos garotos na idade da escola primária, dando-lhes a conhecer, acima de tudo, que o saber ouvir e que mesmo os pontos de vista que são contrários aos nossos devem ser respeitados e só depois de o parceiro terminar a sua exposição é que é salutar que seja expressa a nossa, com bons modos e de forma educada. Como é sabido e sobretudo nos exemplos a que se assiste nas televisões portuguesas, o atropelar de opiniões que, numa confusão de vozes não deixam entender o que é afirmado ou perguntado (refiro-me às entrevistas), mostram que os mais de 35 anos que passaram já sobre o Abril de 74 não foram suficientes para incutir no espírito nacional que as discussões e os atropelos de vozes não constituem, nem de perto nem de longe, a uma prática de liberdade com bom entendimento e em que todas as partes não têm que cortar relações com quem tem entendimentos contrários aos nossos.
São necessários muitos anos de utilização da Democracia nos relacionamentos entre cidadãos para que, de uma maneira natural, mesmo sem se estar sempre a pensar na forma como aplicar tal critério, se utilize esse respeito em relação aos próximos e, nessas condições, até será ridículo andar permanentemente a bater com a mão no peito auto-denominando-se como democratas de gema. Em Portugal, se não ocorrer alguma infiltração de espíritos contrariados com o decorrer da nossa política actual, a prática dessa abertura às maneiras de pensar de cada indivíduo tardará, penso eu, uma boa metade e século, pois temos de reconhecer que os portugueses, quando não gostam de parceiros que assumem gostos diferentes dos nossos (e na política, como é no futebol, na religião, na cor de pele, nas diferenças de classes sociais, etc.) em lugar de conviverem naturalmente tornam-se adversários, quando não até inimigos de tais opiniosos.
Se, pelo contrário, se desse início a inserir das escolas básicas a referida prática democrática, pondo a pequenada a saber ouvir os outros que, em idades frágeis, começam por serem partidários de clubes de futebol diferentes e a não suportar os colegas que assumem outras cores clubistas, se isso fosse ou vier a ser levado em conta será um passo importante para que, depois na vida de crescidos, não só essas desigualdades como todas as outras que os homens devem assumir, contem para o bom relacionamento das populações e, neste caso, dos portugueses.
E o exercício da prática política torna-se muito mais fácil.

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