sábado, 28 de janeiro de 2012

SEGREDOS DE POLICHINELO

É CERTO QUE NEM TUDO se pode tornar público na vida política e que uma certa contenção nas palavras serve para não criar na população uma desmedida apreensão que em nada ajuda a que as medidas que depois chegam ao conhecimento dos, neste caso, portugueses, não ocasionem críticas, protestos, reclamações e até desmotivações que não são a melhor maneira, agora, de colaborar com o objectivo de se progredir na caminhada penosa que o País tem de empreender para, pelo menos, mostrar que a vontade dos governantes é essa.
Se a transparência, palavra que nesta altura tanto se pronuncia, é amiga da tranquilidade com que os “maiores” da condução política de Portugal devem sempre manter, por outro lado o não divulgar certas negociações que estejam a ocorrer, para que as partes não se vejam acossadas antes de chegarem a um apuramento das causas em discussão, isso também se tem de considerar aceitável, desde que, num curto espaço de tempo, se dê conhecimento do andamento e das conclusões que foram conseguidas em ambiente reservado.
O caso da Madeira, com as ameaças de Alberto João Jardim, que se mostra sempre disponível para fazer prevalecer os seus pontos de vista e não levar em conta as resoluções oriundas do Governo da Nação, o enorme buraco criado por sua má conduta no poder local, que resultou no volume atingido de 6 mil milhões e meio de euros com obras que poderiam e deveriam ser levadas a cabo apenas dentro das disponibilidades financeiras de que dispunha em cada altura, essa situação, em vez de tornar mais razoável o tom com que sempre se dirige ao poder no Continente, pelo contrário e sempre com o propósito de criar nos madeirense a ilusão de que a sua atitude é que serve melhor os interesses daquele povo, descambou nos habituais despropósitos linguísticos e, pelo menos, deslocou-se a Lisboa para ser recebido pelo primeiro-ministro e discutir com ele as formas que proporia para libertar o Arquipélago da dose de sacrifícios que teriam de lhe ser exigidos.
E é aí que Pedro Passos Coelho resolve manter em segredo, quer a conversa havida quer a proposta que teria sido apresentada, sendo que também Jardim não divulgou uma linha do que consistia o acordo e, mesmo chegado à Madeira, fechou-se em copas e recolheu-se no seu gabinete sem soltar nada do que passaria a ser exigido aos habitantes madeirenses.
Pois, não se sabendo do lado de cá nem vindo da Madeira nenhum sinal do que seria aplicado – apesar de se tratar de um tema que tocava perto dos portugueses do Continente e também dos que residem na Madeira -, não pode deixar de se considerar que se tratou de um mistério que, já talvez amanhã seja destapado mas que não havia razão para que se tivesse guardado tanto segredo do que, afinal, acaba por ser revelado e não haverá outra forma de actuar.
A importância disto tudo reside apenas na necessidade de os governantes, os principais e os subalternos, como é o caso em apreciação, não utilizarem escondidas do povo situações que interessam directamente aos bolsos dos cidadãos, sempre mas sobretudo num período como este em que qualquer centavo que deva ser pago por eles não pode surgir de surpresa.
Não é que os governados possam fazer alguma coisa, ainda que, por parte dos madeirenses, exista a possibilidade de não repetirem a eleição de um homem que, com tantas manifestações próprias de imputável, mas será por uma questão de actuar sempre com a maior limpidez que se devem evitar os segredinhos de polichinelo…
Já depois de ter redigido este texto, no final da tarde de  sexta-feira, teve toda a gente a possibilidade de se actualizar quanto ao acordo firmado pelo Governo da Nação e o da Madeira, pois Jardim, sentado no Funchal, dispôs-se a comunicar numa conferência de Imprensa quais foram os pontos assinados. E aí tomou-se conta das exigências que vão cair sobre os madeirenses e de que esse plano durará ente 2012 e 2015. No entanto, Alberto João não deixou de salientar que não tem certezas sobre se serão cumpridos todos os compromissos tomados pela Madeira. E, por obrigação que envolve as finanças do Continente, conta-se um empréstimo de um milhão e quinhentos mil euros que o Governo madeirense terá de liquidar até 2031. E nós, os continentais, a aguentar mais este esforço que é feito em favor daquele Arquipélago.
E, caso a referir: Jardim deu mostras ao longo das explicações que prestou aos órgãos da comunicação social da sua tradicional formação de “imperador” não discutível, de ser o possuidor de toda a razão e aproveitou mesmo a oportunidade para criticar a Imprensa em geral por ser, como ele disse, “catastrófica”, conduzindo as perguntas que lhe foram feitas com mão dura, como se se tratasse de uma aula em que ele era o professor e os jornalistas meros alunos mal comportados. Nem aqui se assistiu a um procedimento não criticável…

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