terça-feira, 31 de janeiro de 2012

TUDO PORREIRO, PÁ!

SÓ FALTAVA MAIS ESTA. Então não é que o Governo se mostrou incomodado após o Presidente da República ter feito críticas à política de austeridade que o Executivo tem estado a seguir! E, de imediato, essa falta de solidariedade que foi atribuída à atitude de Cavaco Silva, foi aproveitada para acusar o Homem de Belém de tentativa de desviar atenções para a sua infeliz e polémica afirmação de que o valor das reformas que lhe são atribuídas, aliás por sua vontade, por abdicar em contrapartida do ordenado de Chefe do Estado, não chegam para fazer face às suas despesas.
Com razão ou sem ela, porque na situação de enorme défice em que Portugal se encontra não tem cabimento qualquer tipo de arrufo por parte das instituições que têm sobre os ombros a grande responsabilidade de levar com eficiência a nossa Terra,  já que não são capazes de fazer progredir o País, ao menos que não dêem má imagem no exterior, sobretudo numa altura em que se impõe que sejamos olhados, tanto pelos actuais credores como pelos que eventualmente venham a ser requisitados, com um mínimo de confiança.
Por outro lado, não cabendo ao Chefe de Estado interferir nas acções que sejam oriundas do Governo, como eu aqui já tenho referido sempre pode ter efeitos positivos se, neste caso Cavaco Silva, não se mantenha mudo e mostre aos portugueses qual é a sua opção em cada caso, isso sempre depois de ter dado a conhecer pessoalmente ao primeiro-ministro que não está conforme com a medida que tenha sido anunciada. A isso chama-se colaboração e não intervenção, podendo também o chefe do Executivo contrapor com a sua opinião, podendo as duas não serem equivalentes e, nesse caso, governa quem é governante. Mas, em tais circunstâncias, ficam os portugueses a conhecer ambos os pontos de vista e isso contará para, mais tarde, quando forem chamados a colocar o seu voto em momentos eleitorais que não são coincidentes, apoiarem uma ou outra personalidade. E as oposições, que existem precisamente para tornarem públicas as críticas que os seus partidos sustentam, têm de fazer o seu papel, com respeito absoluto pelo sistema democrático que consiste precisamente nas exposições dos pensamentos que comandem as atitudes de cada qual.
Se o Presidente da República não está, nesta altura, de acordo com as medidas de austeridade que estão a ser sucessivamente impostas como, de resto, é o que se ouve com maior assiduidade em todos os locais onde nos deslocamos, pois não se espera que os cidadãos, ao verem o seu dinheiro ser cada vez mais escasso, pelo menos que diga aos portugueses qual seria a sua actuação se voltasse a sentar-se na cadeira em S. Bento onde, de resto, já esteve numa ocasião em que se deu início a despesas incontroladas que, depois, no período de Sócrates, atingiram proporções completamente disparatadas e que puseram Portugal na situação em que se encontra neste momento.
Se, uma das últimas frase cavaquistas foi de que “o Presidente da República é o provedor dos portugueses”, pois então que cumpra essas funções expondo claramente aquilo que considera ser o melhor para o País, sujeitando-se, está bem de ver, a escutar toda as reacções daqueles que se colocam na posição contrária. O facto de cada um assumir uma opinião sua diferente da de outro não tem, forçosamente, de ser considerado inimigo, podendo as relações serem mantidas com afabilidade e respeito, pois o que importa é que cada um actuecom o seu sentido de melhor querer servir a Nação.
Como custa, em Portugal, praticar-se a Democracia, sendo bem visível que os muitos anos de ditadura não saíram ainda do espírito da maioria dos nossos concidadãos, faltando aquilo que tanto tenho proclamado e que é de, nas escolas primárias, se começar, urgentemente, a ter aulas práticas de saber ouvir e de, mesmo não estando de acordo com o que está a ser ouvido, nunca levantar uma discussão estéril, esperando para expor a seu tempo, quando o outro se calar, a controvérsia da conversação.
Se este ensinamento já tivesse sido introduzido, 38 anos após a Revolução que terminou com o regime de imposição da política dos “chefes” seria tempo quase suficiente para, pelo menos, o que foi juventude na época e hoje já anda por aí na área da política, teria um comportamento bem diferente daquele que se verifica aquém fronteiras lusitanas.
Nesta altura, já de ambos os lados, de Belém e de S. Bento, sairam comunicados a afirmar que não se verifica nenhum azedume e que os relacionamentos estão "porreiros, pá!". Isto é Portugal!

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