domingo, 13 de novembro de 2011

ALMOFADAS E TRAVESSEIROS

É ASSIM QUE A NOSSA LÍNGUA tão rica, serve para ser glosada com aplicações que têm utilidade com diferentes sentidos. Já vem do antanho este uso que a imaginação tanto popular como dos mais conceituados utilizadores deste nosso património, tal como poetas como foi Luís Vaz de Camões, pelo que a sua continuação só serve para demonstrar que os homófonos e os homógrafos permitem, ainda que causando a confusão, lançar uma certa alegria nas afirmações que fazem.
Quando o Partido Socialista, afirmando a sua votação nula no Orçamento do Estado para 2012 e a que vai ser sujeita na Assembleia da República, a troco de tal gesto – ou, pelo menos, parecendo ser essa a negociação discutida entre portas – pretende que exista da parte do Governo uma maleabilidade bastante para que os subsídios do Natal e de férias que estão anunciadas como sendo anuladas na totalidade, só sejam aplicados esses cortes numa das duas aplicações, pelo que os representantes do sector do Estado afirmam não existir uma “almofada” que permita conceder essa alteração, é aí que a expressão surge com o significado, não do instrumento que se utiliza para descansar a cabeça ou outra parte do corpo, mas sim como folga que dê ocasião a uma saída de dinheiros públicos saídos de outras contas.
Seja como for, os portugueses que se encontrem atentos a estas medidas que, no caso corrente, representam uma diminuição de proventos nos seus bolsos, não deixarão de fixar a expressão utilizada de um e de outro lado do confronto político, sendo que o PS, tendo necessidade de recorrer a uma expressão que, traduzida na língua que for usada nas conversações com os representantes cá presentes do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, não podem reflectir a particularidade do idioma nacional que se presta a este tipo de habilidades linguísticas.
O facto é que o Partido Socialista aponta a margem a que se pode recorrer para, pelo menos, ser cumprido o hábito de conceder, quer aos que trabalham como aos que já se encontram, uma das duas atribuições de um mês de salário, sendo aí que afirmam “haver almofada”, quando por outro lado, os governantes defendem-se com a recusa, ainda que dando mostras de se poder ir até uma certa percentagem do valor total de um dos subsídios, utilizando a expressão de que não existe a tal “almofada” que suporte tais despesas.
No caso dos reformados, que não podem servir-se da medida de que os trabalhadores, através dos seus sindicatos, utilizam, as greves, esses ficam sentados a mastigar a palavra que, servindo para eles descansarem das fadigas antigas e que hoje lhes dá tanto consolo, as almofadas, nesta ocasião passam a ser odiadas e, na cama de cada um, vão ser postas de lado com um resmungar compreensivo.
A par desta discussão sobre uma medida que, vistas bem as coisas, é possível que o Governo actual pudesse ser um pouco mais benevolente, por muito que isso provocasse uma determinada distorção do plano financeiro que lhes caiu nas mãos, mas talvez constitua a última atitude que não carregue tanto no semblante político que o grupo de Passos Coelho tem vindo a mostrar, pois ainda existem cortes nas despesas que se encontram por efectuar – e nem é necessário enumerar aqui a lista que se encontra ainda na sala de espera das actuações rigorosas a fazer -, ao mesmo tempo que isso ocorre -, a mim particularmente, cabe-me o dever de aplaudir duas acções que constituem medidas que o grupo de Passos Coelho entendeu levar a cabo: trata-se de passar para o Ministério dos Negócios Estrangeiros a missão de comandar o IAPMEI, instituição de que eu tenho falado imenso, pois refere-se a uma actividade que pode e dever exercer um papel de extraordinária importância para conseguir que Portugal ultrapasse esta fase de pouca produção e de excessiva dose de importações de bens que podem ser produzidos dentro de portas, desde que a sua utilização passe a ser devidamente acompanhada a par e passo, coisa que não aconteceu no período em que Basílio Horta foi o responsável pelo comando de um instituto que, sendo de um custo de manutenção excessivamente elevado, com a manutenção dos diferentes escritórios espalhados por diversas cidades do mundo, não tem mostrado os resultados que têm de se exigir, pois o papel que lhe compete desempenhar corresponde à possibilidade de deixarmos de ser um País paralisado na produção para passarmos a poder aumentar significativamente as exportações e, ao mesmo tempo, formos capazes de trazer para dentro de portas muitos investidores, sobretudo industriais, dando trabalho à mão de obra nacional e expandindo-se pelo interior do nosso território, agora tão abandonado, mesmo que oferecendo terrenos para o efeito que os municípios de todos os lados pusessem à disposição.
Este assunto já foi aqui tratado em blogues anteriores, pelo que mais me agrada salientá-lo neste texto, considerando ser possível que os governantes tenham tomado conhecimento por este meio. Mas, não sendo importante que tenha sido assim ou não, o que sim interessa é saber que alguma coisa de importante foi resolvida na nossa governação actual.
Outra actuação que me merece um aplauso é a determinação que foi vista na nossa ministra da Justiça, ao ponto de se ter confrontado com um adversário que não se pode considerar como “pêra doce”, o bastonário da Ordem dos Advogados, tendo declarado que o sistema judiciário português “está feito para os crimes prescreverem”.
´É sabido como a Justiça no nosso País só dá mostras de que necessita urgentemente de ser mexida de alto a baixo, pois o sistema não corresponde às necessidades de rapidez e de justeza que a vida moderna impõe. Até agora, quem tem desempenhado as funções superiores do Ministério da Justiça não mostrou habilidade, destreza e coragem para pegar no assunto e, contra ventos e marés, proceder à mudança do tal “sistema” que está mais do que sabido que não pode continuar com os procedimentos que são bem conhecidos e criticados. A tal independência de que o sector goza tem ocasionado que ninguém tenha mostrado a capacidade para enfrentar toda a máquina que se mantém a operar, pois o risco de chamar as coisas pelos seus nomes e de apontar publicamente o que está mal, esse passo tem sido difícil de dar ou de, pelo menos, encontrar quem tenha a característica de ser bom combatente e de não temer as consequências da frontalidade que utilizar. Pois agora, atrevo-me eu a afirmá-lo, tudo indica que a independência de todos os tipos, incluindo a de vida desafogada e sem receios de ficar depois desprotegida, permitem que seja desta vez que aparece alguém, sobretudo sendo mulher, o que é um factor de ainda maior elogio, com disposição e vontade para tomar conta do assunto e não se dobrar perante até ameaças de que, eventualmente, venha a ser alvo.
Só se aguarda que Pedro Passos Coelho ofereça o seu maior apoio e salvaguarda para que, ao menos neste sector, o Governo que tem um vendaval de problemas para resolver, se mostre disponível para proteger um membro do seu conjunto. Esperemos que assim seja.

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