terça-feira, 8 de novembro de 2011

ENGENHO E ARTE

É BEM CONHECIDO O DITADO que diz que a fome aguça o engenho. E se o aplicarmos agora, neste período em que cada dia que passa mais nos mostra que essa ausência de emprego, alimentos e de tanta coisa vital para a existência humana caminha a passos largos na nossa direcção, talvez possamos puxar pela cabeça e fazer um esforço maior para tirar partido da denominada fome de tudo e conseguirmos encontrar saídas para problemas que, com a barriga cheia, nem nos daríamos ao trabalho de procurar.
De facto, é nas ocasiões de maiores dificuldades que o homem é capaz de dedicar a maior atenção ao que o coloca nessa posição e descobrir maneiras de solucionar dificuldades. Ficar-se sentado a aguardar que um milagre ocorra e, entretanto, ser-se vítima dos infortúnios que nos atingem, isso só sucede aos que se conformam com os maus ventos e não têm disposição para dar a volta ao assunto, chegando a meter-se em tarefas de que não se lembraria e, mesmo que lhe passassem pela cabeça tais ideias, não daria um passo para as pôr em prática.
Vamos então a esse exercício que, nesta altura do combate à tal crise, bem pode ajudar a que o nosso País se liberte um pouco da fraca disponibilidade financeira, tal como nos revelam os pedidos de ajuda de euros que temos feito seguidamente a posses estrangeiras. Outro ditado diz que vão-se os anéis mas ficam os dedos, o que quer dizer que, enquanto tivermos mãos e cabeça para as orientar, não se dá o caso de soçobramos na praia…
O Governo está a dedicar-se a vender empresas lucrativas que permitem a possibilidade de receber bom dinheiro em troca, mesmo que a propriedade das mesmas passe para o lado dos que investem e são de origem estranha a Portugal. Se houver habilidade nessas cedências de gerir o que foi criado por nós, poder-se-ão obter outras vantagens, como seja a garantia de se manterem funcionários nacionais e até a oferta de alargarem a área desses investimentos, permitindo a criação de nova empresas no nosso território. Porque é disso que se trata, fazer com que venham de fora cabeças e fundos que proporcionem o nascimento de instituições económicas, sobretudo se forem da área da indústria e se possam implantar no interior do nosso País, onde se tem verificado um abandono de população que fez aparecerem zonas só com população de idade e já sem motivação para criar riqueza.
A novidade que, de certo modo, era esperada do Partido Socialista ir votar em branco o Orçamento do Estado é um passo decisivo para ganharem os nossos políticos um certa margem de confiança, até agora bastante abalada, e cabe ao Governo dar mostras de capacidade de não se deixar abater, ainda que com enormes dificuldades, em frente da gravidade da situação em que nos encontramos, pelo que é necessária muita inspiração e grande sentido de aproveitar as oportunidades, tendo aquele ditado expressado acima de deixar irem os anéis e tirar partido do que poderá valer para utilizarmos os investimentos que sempre espreitam do lado de fora das nossas portas.
Pois aqui deixo uma ideia que me assalta há muito e que é neste momento que poderia constituir a oportunidade de ser posta em prática: toda a grande área que, num ponto verdadeiramente especial que existe na cidade de Lisboa, o espaço onde se situa, no alto do Parque Eduardo VII, a cadeia ali existente e o enorme troço de terreno que a envolve, e que é uma amostra bem feia que oferecemos aos olhos de quem visita a nossa capital que, no mesmo sítio, deveria proporcionar a existência de algo que nos honrasse e que resultaria da tal imaginação que é preciso pôr a funcionar, assim como outros locais que também necessitam ser remodelados, alterados e transferidos os empreendimentos que lá existem, tudo isso é que, proporcionando aos capitais estrangeiros a possibilidade de serem cá utilizados, construído cadeias, hospitais e serviços de utilidade pública – seguindo o exemplo de Madrid que, no tempo de Franco, edificou o “barrio de los Ministérios”, onde tudo se centraliza num só local, com transportes organizados e em que não é como por cá, em que temos de saltitar de local para local para conseguirmos obter a documentação exigida pelas burocracias -, tudo isso e muito que merece um estudo aprofundado é que poderia ser levado a cabo, posto que a troca dos terrenos tão valiosos que estão na base desta ideia faria com que as construções desejadas fossem efectuadas por ajuste de valores, o que talvez até ocasionassem uma inversão de dinheiro que o Estado encaixaria.
Claro que para se chegar a um resultado positivo de toda a operação, se impõe que, do nosso lado, se verifique uma bem estudada proposta, não só quanto o a valores como igualmente no que respeita à modernização da nossa bela cidade de Lisboa. Assim como, no que se refere aos locais onde deveriam ser levantados os hospitais e as cadeias que mudassem de posição, se teria que contar com as compreensões de municípios vizinhos da capital, para que fossem para lá transferidos, sendo que, por esse motivo, as instalações lucrariam com as modernidades que a nova tecnologia oferece.
Aproveitando a visita que nos fazem, neste momento, os elementos que fazem parte da troyka e que já nos conhecem, talvez pudéssemos tirar partido disso e dar mostras de que estamos dispostos a mostrar boas ideias e aptos a fazer obras previstas, esperando dessa parte algum entusiasmo que o Terreiro do Paço sempre transmite aos estrangeiros, embora, da nossa parte, não se vislumbre um pouco de aptidão para nos libertarmos da maldita crise, a “culpada” de tudo!
Bem sei que esta visão dos possíveis acontecimentos terá dificuldade em ser entendida por grande número de conservadores que não encaram com facilidade as mudanças revolucionárias. Mas é precisamente agora, com a crise ao colo, que se poderá ser arrojado nas ideias e na sua execução.
Eu, pelo menos, que levei toda a minha vida a executar obra sem dinheiro (por exemplo o visionário “Apolo 70”, nascido do nada, e sobretudo um semanário, “o País”, que ocupou, durante dez anos, uma posição de relevo e que foi criado com 200 contos emprestados) isso para além de vários outros empreendimentos que se pagaram com o pelo do próprio cão), estou à vontade para idealizar muitas arrojadas propostas, mesmo que haja quem considere tudo um sonho de que nem valha a pena tomar conhecimento.
Mas é por isso mesmo que, ao fim de mais de 900 anos após o nascimento, olhamos para as nossas mãos e as vemos vazias!

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