domingo, 27 de novembro de 2011

FADO, FUTEBOL E FÁTIMA

VOTA-SE HOJE em Bali, na Indonésia, se o fado vai ou não ser considerado como património universal e a esperança de que seja favorável a nossa adesão tem levado a que as estações televisivas se tenham empenhado com o anúncio e, por isso, difundido várias das interpretações de diversos cantores portugueses. Ainda bem.
Eu, por mim, confesso, de resto como faço sempre que tenho que expressar a minha opinião: na idade quando comecei a sair à noite sozinho, fui frequentador das casas de fado, aproveitando as companhias que me davam importância suficiente para me sentar às suas mesas; logo a seguir e interessando-me pelo jazz, por influência de um companheiro de escola que foi o grande impulsionador desse tipo de música, Luís Villas-Boas, colaborei na fundação do Hot Clube de Portugal, tendo-me calhado até a mim descobrir, por acaso, a cave onde se fixou a sede da instituição que ainda hoje existe. Depois disso e já me encontrando eu a palmilhar as letras, se guindo a carreira de jornalista, amante como sempre fui da boa música clássica, já que não pude, como tanto gostava, seguir aquela onda e pelo que fui aluno na Academia dos Amadores Música, com aulas de solfejo do Padre Tomaz Borba, desliguei-me desses dois estilos musicais e, nesta altura, de repente regressei a redescobrir o nosso fado lisboeta, e faço-o hoje com tanto empenho e prazer que me condói o afastamento que se produziu em mim ao longo de tantos anos.
Dito isto, que é o menos importante do acontecimento, acolho a notícia da candidatura do fado lisboeta a canção universal com verdadeiro empenho, tendo de saudar os autores desta iniciativa que, numa altura nada entusiasmante da vida portuguesa, se tenham dedicado a esta tarefa. Serve, no mínimo, para tentar unir a maioria dos compatriotas que, por razões bem compreensíveis e torturantes, se encontrem dispersos em pensamentos desmotivadores de tudo que constitua uma atitude gloriosa de Portugal.
Suponho que só pelo fim do dia é que se tomará conhecimento do resultado da votação, mas, nesta altura em que escrevo, ao fim do dia, já se conhece que o Benfica saiu vencedor do encontro com o Sporting, dois clubes rivais que, também eles, afastam os partidários das respectivas equipas dos pensamentos relacionados com as pesadas dificuldades financeiras que as circunstâncias que atravessamos nos impõem.
Verdade seja que, apesar do dinheiro estar cada vez mais escasso nos bolsos dos portugueses, para este tipo de espectáculos sempre se vai arranjando para pagar os bilhetes de ingresso e, se for caso disso, no final os vencedores dêem uma volta com os amigos e correligionários a tomar uns copos.
Vem muito a propósito recordar aqui uma frase que indiciava o espírito dos portugueses, a qual, segundo se diz, vem do tempo do Salazar: fado, futebol e Fátima, será o trio que constituía, em resumo, preocupações dos portugueses. As duas primeiras servem para distrair a população e a última, Fátima, tem serventia para os que têm a sorte de manter a fé, fazendo votos para que a situação terrível que ocorre no nosso País acabe o mais depressa possível.
Quanto a esta última esperança a coisa é bem mais difícil de alcançar, pelo que o conservarem-se o fado e o futebol pode constituir uma boa ajuda para que se aguente algum tempo mais. Mas não será muito!

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