sexta-feira, 25 de novembro de 2011

FADO, FADINHO...

GOSTEMOS OU NÃO do tipo de música e da canção que constituem aquilo que se deseja agora que seja considerada como património nacional, o nosso fado, o que não pode ser desmentido é que se trata de algo que caracteriza os portugueses, especialmente os de Lisboa, e que arrasta nas suas lamúrias bastante da alma dos compatriotas que, na sua maioria, têm uma afeição muito especial por aquilo que faz parte do seu conjunto, da música e especialmente das letras.
Todo o percurso dos naturais de Portugal, neste canto na ponta oeste da Europa, não tendo sido constituído, ao longo da nossa História, por um percurso de alegria e de bem-estar, antes fazendo parte dele um rolo de tristezas e de sofrimentos (as excepções que os compêndios registam como heróicos não transmitiram ao povo a sensação de felicidade, pois que as glórias não passaram do seus promotores situados em escala superior), foi o fado que sempre transportou consigo o que se foi acumulando nos espíritos dos naturais da nossa Terra. E se a origem do fado for, como alguns afirmam sem garantias de certeza, a canção árabe, então não nos podemos admirar por termos tanta atracção pelo arrastadinho que marca o cantar fadista.
Seja como for, o certo é que não nos podemos divorciar desse lânguido e bem sonante tipo de música e ainda bem que assim é. Os nossos emigrantes transportam-no consigo e, com as saudades que provocam a sua ausência da Pátria, pelo menos através dos modernos meios de transportarmos o som e também as imagens dos nomes mais distinguidos na arte fadista. E assim se regalam e tapam as amarguras de terem saído de onde nasceram.
Agora, nesta época em que nos encontramos e em que nos debatemos com as grandes exigências que a crise nacional nos impõe, o fado está bastante apropriado para chorar as amarguras da vida que temos de suportar. Fechados num quarto, com a falta do que é mais necessário, vendo as mãos vazias de dinheiro e também, na maioria dos casos, de emprego, será essa a companhia que mais se adequa à situação.
Quando tomamos conhecimento das dívidas que têm sido contraídas para que o Estado possa ainda dispor de verbas que necessita para cumprir com as suas obrigações, um fado é apropriado para relatar os acontecimentos tristes que os políticos que os políticos, sem outro recurso, nos apresentam. E quem está atento aos pormenores de tais dívidas e das consequências que resultam de terem de ser pagas, não já por nós mas pelos nossos descendentes, ainda mais apropriado se torna o fadinho bem chorado.
Se não vejamos: Para além do que já foi recebido do Fundo Monetário Internacional (FMI), estamos a aguardar uma nova tranche que será faseada e que, no total, se situa na casa dos 26 mil milhões de euros, o que nos coloca em terceiro lugar na ordem de países que recorreram aos respectivos fundos, depois da Grécia e do México. É certo que este fundo tem actuado, com fundos financeiros, em 48 países, nos tem contemplado e já no próximo mês de Dezembro uma nova tranche de 2,7 mil milhões e em Janeiro 5,3 milhares de milhões, o que perfaz um total que se junta aos 10,4 mil milhões que já entraram nos nossos cofres. E tudo isso sujeito a juros que rondará os 3,25 % nos três primeiros anos e 4,25% nos seguintes, ainda que não exista a garantia de não surgirem oscilações, sobretudo quanto a um montante que Portugal acumula, estimando-se que o que Portugal terá de pagar juros e comissões, porque estas também existem e atingem um valor de 400 milhões de euros.
Com todos estes milhares de milhões que já se pronunciam com a maior ligeireza, o que nos está reservado representa uma dor de cabeça que nos acompanhará durante vários anos e isto se conseguirmos ir cumprindo os prazos que aceitámos nas alturas dos empréstimos. E é esta realidade que deixamos de herança aos nossos vindouros. É por isso nossa obrigação não escondermos o drama que temos vindo a compor, posto que, nos momentos em que tivermos de ir satisfazendo as dívidas, a maior parte dos responsáveis de hoje já não se contarão no número dos vivos ou estarão a fazer parte dos reformados… se nessa altura ainda se pagarem reformas…
Se os autores das letras fadistas estiverem dispostos a escrever a história do que constitui nesta altura a vida em Portugal, tratar-se-á, sem dúvida, de um choradinho bem triste. Assuntos para lamúrias não faltarão.
E tudo isto é fado…

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