quinta-feira, 3 de novembro de 2011

VERMO-NOS GREGOS

PERGUNTO-ME SE, NO DIA A DIA DOS PORTUGUESES, tão preocupados como andam em relação às dificuldades que os assolam e temendo ainda mais o que virá por aí, logo que surgir o primeiro dia de Janeiro do ano que está a chegar, se terão consciência do que se passa lá fora, na Europa a que pertencemos, e em especial ao caso da Grécia, e, ao cruzar-me com compatriotas que sempre dão ocasião a comentários sobre o que é motivo para troca de impressões, não surge com naturalidade o acontecimento agora tão difundido da atitude assumida pelo primeiro-ministro grego Papandreou, de ter solicitado a convocação de um referendo popular para saber se havia unanimidade por parte dos seus compatriotas de aceitação do pedido feito pelo seu governo aos credores europeus, de lhes ser concedido perdão da metade da dívida que assumem e de aguardar pelo empréstimo já acordado de 8 mil milhões de euros, indo ao ponto de querer averiguar se os seus compatriotas vêem com bons olhos mais esse apoio excepcional. Na verdade, os portugueses, pelo menos aqueles que vivem na minha área, não deram até agora grande importância ao facto e nem terão grande ideia das consequências profundas desse gesto.
É que, se o povo grego votar para que o seu País se afaste da moeda única e tudo fazer, ainda que não havendo uma ideia precisa da forma de se actuar, para acabar com a política de austeridade que, também ali, é aplicada, o que pode ocorrer em todo o nosso continente terá uma dimensão de risco que tornará difícil aos outros membros do mesmo acordo de solidariedade prosseguirem na luta para a unidade dos até agora 27, a qual, diga-se abertamente, tem sido difícil conseguir, pois que se encontra ainda bem distante do ideal que foi sonhado pelos fundadores já distantes quando da criação da CEE.
Nós por cá, tal como todos os membros da União Europeia não podemos interpretar essa atitude do governante grego como tratando-se de algo que iria ou irá beneficiar esse povo, pois estendendo-se os malefícios resultantes de uma eventual negativa ao referendo, dado que todos os outros, pelo menos desta vez, deram o seu acordo no que diz respeito ao auxílio suplementar a um parceiro que atingiu o ponto mais baixo da sua solvência, não se perfila uma razão bem pensada que justifique a atitude que o primeiro-ministro grego tenha tido. A não ser que seja para se livrar da “batata quente”, passando a responsabilidade ao povo do seu país, não sendo isso não é compreensível esse passo em falso.
E tendo-se iniciado ontem em Cannes uma cimeira dos G20 que juntou, como já se tornou norma, os responsáveis da França e da Alemanha, para além de todos os membros mais responsáveis dos países europeus, tendo sido convocado Papandreou para participar na análise da situação e explicar aí a ideia do referendo, joga-se uma última etapa que, até ao momento ao fim da tarde em que redijo este texto, não existem conhecimentos dos resultados.
E volto eu ao início do que foi lido: este assunto de fulcral importância para todos nós, ainda não conseguiu ultrapassar o interesse de todos os órgãos de Informação que se dedicam ao tema principal destes dias: o assassinato em Dezembro do ano passado da amante do milionário Tomé Feteira e em que o nome de Domingos Duarte Lima é que ocupa grande espaço das notícias. Como se os milhões que caíram nas contas do advogado da figura que levou três tiros à queima-roupa servissem para atenuar as contas públicas!
Eu nem queria referir-me a esta questão, porque o que deve ser considerado como importante aos portugueses são outras matérias que nos envolvem a todos. Mas não posso iludir-me e admitir que a realidade da vida provoca bom senso, quer aos nossos portugueses, quer, provavelmente, aos outros povos que, do mesmo modo a sofrer as consequências da tal crise, preferem disfarçar e ficar alerta com situações corriqueiras que não acrescentam nada de frutífero ao ser humano.

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