segunda-feira, 14 de novembro de 2011

SONHAR É FACIL

OS PORTUGUESES SEMPRE FORAM UM POVO SONHADOR. A imaginação quanto ao futuro, o desejo de sermos alguma coisa diferente do que realmente somos, a arte de construirmos, na cabeça, um País que se revelasse superior em muitas facetas e por isso chamarmos continuamente à nossa exposição os feitos que certos antepassados deixaram bem marcados, como as Descobertas, por exemplo, tudo isso talvez tenha contribuído para, feitas bem as contas, nos mantermos agarrados a matéria passada e a termos dificuldade em avançar em glória para o futuro, com um presente que nos mantém receosos de darmos os passos que a modernidade exige, pois que, sem essa aventura, só nos resta ver os outros caminharem e nós mostrarmos até receio de nos aventurarmos, porque o que está é melhor conservar do que corrermos o risco de d ar passos aventureiros.
Este intróito serve para justificar, segundo o meu ponto de vista, a vaga demonstração de queremos progredir mas não sermos capazes de correr os riscos que as aventuras sempre transportam.
Eu, como português que sou, natural de uma terra que produziu grandes homens em diferentes actuações, Caldas da Rainha, embora mantendo o sangue paterno de uma família alentejana de Évora e Alandroal, ainda que me tenha aventurado em situações que, não sendo as mais confortáveis, me obrigaram a lutar para ultrapassar os fracos recursos que acompanharam os passos que dei, especialmente na área do jornalismo e tendo sido cabeça de títulos que consegui lançar no mercado, compreendo aqueles que, não querendo lutar com o infortúnio, se limitaram a ser peças de naipes que tinham quem desse a cara e o corpo ao manifesto, isto é, deixassem nas mãos de outros a responsabilidade de suportar as dificuldades que surgissem no decorrer dos lançamentos de jornais e revistas que já existiam ou que constituíram novidades.
Mas, dando uma vista de olhos sobre acontecimentos que, por exemplo na nossa bela cidade de Lisboa, só por isso representam um motivo mais do que suficiente para fazer sonhar as mentes mais ousadas, com este tema tão farto de hesitações de muitos responsáveis na área da criatividade lisbonense, só que, ainda que com um motivo tão entusiasmante, os sucessivos portugueses que tiveram a seu cargo a possibilidade (mesmo que muito difícil) de deixar um legado importante nesta nossa cidade, não foram capazes de vencer todos os conflitos que era apresentados e, chegados a esta altura, deparamos com aquilo de mau existia nas alturas em que tomaram posse como presidentes do município alfacinha.
Vejamos então, ainda que de raspagem: o triste Parque Mayer que qualquer capital bem desejaria ter herdado, pois que se trata de um espaço, em pleno centro do burgo, que tem a possibilidade de reunir um número apreciável de estabelecimentos de espectáculo, como sempre foi ali, mesmo que com deficientes meios de aproveitamento, passando sobre o caso uma lista de responsáveis pelo município da capital, não foi conseguido encontrar um deles que, contra todas as dificuldades, custasse o que custasse a luta com adversários, pusesse de pé o que, durante a responsabilidade de Santana Lopes, só conseguiu que um arquitecto estrangeiro, Frank Gehry, por via do pagamento de um verba assombrosa, 2,9 milhões de euros, tivesse construído uma maqueta do que passaria a ser o referido local, mas que não passou dessa intenção, restando a sua execução para quem consiga disputar nos tribunais (sempre eles) a posse do que representa algo que serviria para dar mostras ao estrangeiro que também podemos ter uma cidade que equivaleria às mais modernas do mundo. Mas ficou-se pelo sonho e nesta altura, em que as circunstâncias são de feroz economia de meios, empurra-se com a barriga tudo o que fica bem instalado na nossa imaginação.
Mas é de uma grande variedade tudo o que poderia já ter sido levantado e que diz igualmente respeito à velha lísbea dos nossos amores. É o Luna Parque, que lá está à espera de melhores dias pois que o terreno bem central mantém-se a aguardar que se reponham, mas desta vez com muito mais cuidado, na zona da avenida da República. Continuamos com o sonho e não deixamos de imaginar o que poderia vir a ser aquele local que, se caísse nas mãos de um outro povo com capacidade para levar por diante, em termos práticos, aquilo com que sonha e que se apresenta com viabilidade de ser executado.
Não vou acrescentar mais nada e que faz parte do meu painel de imaginações, não só meu, creio, mas de muitos sonhadores que bem gostariam que não pertencêssemos a um povo que, desde que embarcámos para a descoberta do que nem sabíamos o que se ia encontrar, por aí ficámos e, nesta altura, nem sequer contemplarmos o grande e belo horizonte do Atlântico que se coloca diante de nós, nem isso nos entusiasma.
Eu não quero acreditar que ficaram pelo caminho os belos panoramas que o Homem é capaz de reter no seu pensamen; que nos fez muito mal o período demasiado longo de uma ditadura que conseguiu retirar de todos os que se conformaram com o que lhes era autorizado, não tendo liberdade para a imaginação e muito menos divulgá-la, ao ponto de, chegados a este momento da não opressão, não sermos capazes de levar por diante o que admitimos constituir um passo importante nas nossas vidas. Crer nisso é então o fim de tudo.

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