domingo, 6 de novembro de 2011

SE EU MANDASSE!

NÓS, PORTUGUESES, que temos o hábito de nos pretendermos colocar no papel de outros, geralmente com posição social superior à nossa, pelo que é normal ouvir-se da boca de um parceiro “se fosse comigo” eu faria isto ou aquilo, na situação que atravessamos em Portugal, com os problemas de grande dificuldade para solucionar, não serão muitos os que invejem a posição do actual primeiro-ministro, dado que seja qual for o passo que seja dado na política nacional sempre existirão opiniões contrárias que, utilizando os meios de comunicação que estiverem à sua disposição, nem que seja apenas nas conversas com parentes e amigos, deitam abaixo com expressões agressivas o ou os autores dos passos que se anunciam e que seguem.
Na verdade, o nosso País situa-se neste momento numa encruzilhada que, seja qual for a forma de se tentar sair dela, sempre existem outros modos que cada cabeça admite ser a mais viável. E como não compete aos comentadores responsabilizarem-se pelos passos que forem dados, só o principal mentor, o chefe do Governo, será a vítima dos críticos que, sobretudo em democracia, têm todo o direito de expor os seus pontos de vista.
Quando as altas esferas do Governo que temos, juntamente com o Partido Socialista, decidiram todos recorrer à troika para receber o auxílio que tudo indicava ser absolutamente necessário, nessa altura só as vozes das esquerdas mais agressivas se mostraram discordantes dessa submissão. E, com o decorrer do acontecimento, em variadas ocasiões fizeram questão de afirmar que deveria o nosso País não cumprir com as medidas assumidas, alterando os montantes, as datas de pagamento e os juros que tinham sido atribuídos, o que, por parte das outras forças políticas mais moderadas foi considerado como atitude que provocaria uma enorme desconfiança dos credores externos, o que impediria outros pedidos de ajuda que viessem a ser apresentados, expondo que a situação financeira portuguesa não garantia que tinha bastado o anterior empréstimo para podermos cumprir as obrigações que pertencem ao Estado, desde salários a reformas e a auxílios às pequenas e médias empresas.
Entretanto, o pouco tempo entretanto decorrido foi bastante para descobrir que, de facto, o empréstimo que nos tinha sido concedido não cobria a totalidade da escassez financeira e que se tornava necessário “fazer um ajustamento” – expressão considerada adequada para não se utilizar a palavra negociação - , pois que os acontecimentos ocorridos com a Grécia (o que serviu à perfeição para se iludir o susto que causou a todos os membros da Comunidade Europeia) e o perigo do “contágio” que os gregos ameaçavam, tudo isso deu coragem para aproveitar a visita de membros da troika ao nosso País e sentarmo-nos de novo à mesa para encontrar forma de alterar certas obrigações assumidas por nós, tanto mais que a situação de várias empresas públicas, especialmente as ligadas aos transportes, para além do problema dos bancos portugueses que apresentam baixas consideráveis de fundos para financiamentos, tudo isso impunha uma atenção muito particular, que o mesmo é dizer um auxílio financeiro extraordinário.
Por muito que o primeiro-ministro tenha feito afirmações de que não se tratava de “renegociar com a Troika” e por isso apelou ao uso da expressão “reajustamento”, não importa agora utilizar cautelosamente as palavras certas, porque o que sim é mais do que certo é que vamos necessitar de ajudas substanciais de verbas se pretendemos, de facto, encarar a necessidade de apoiarmos o lado económico do nosso País, isto é investirmos largamente em sectores que mais rapidamente podem desenvolver a produção, como seja a agricultura e a pesca (ambas reduzidas na altura em que Cavaco Silva exerceu o comando do Executivo, é bom termos isso presente), para além de dedicarmos uma atenção muito particular à actividade do ICEP, instituto que eu, neste blogue, tenho referido insistentemente, mas que, agora com novo presidente, Pedro Reis, mas na dependência de Paulo Portas, como ministro dos Negócios Estrangeiros, tem a seu cargo, como já antes devia ter sucedido com Basílio Horta (só que este não era a pessoa indicada, até porque quando exerceu anteriormente as funções de ministro da Economia deu mostras claras da sua ineficácia para cargos que exijam perspicácia e instinto de bom vendedor).
Há, portanto, que recuperar muito tempo perdido e recolocar nos postos avançados nas principais praças do mundo as pessoas que sejam capazes de expandir aquilo que precisamos de vender, ao mesmo tempo que o mesmo AICEP tem obrigação de tudo fazer para angariar investidores industriais que montem em Portugal as suas fábricas (para o que as Câmaras Municipais devem facilitar espaços em condições muito aceitáveis para serem ali montadas as referidas unidades novas), pois tudo isso devidamente coordenado terá de ser a preocupação principal dos nossos governantes.
E é por isso que os reforços financeiros a solicitar devem destinar-se a contribuir positivamente para aumentar o interesse das empresas estrangeiras, dado que será por esse via que também poderá diminuir a alta taxa de desemprego que se regista agora.
Agora sim, poderia dizer o mesmo que é habitual ouvir-se dos portugueses correntes e normais: se eu mandasse era por aqui que seguiria, não perdendo tempo com fantasias e com afirmações teóricas, que só servem para entreter e nada de concreto acrescentam ao estado perigoso em que nos encontramos.
Agora, mais do que nunca, temos de ser práticos e arredar as teorias que muitos dos políticos utilizam nas sujas discursatas!

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