sábado, 5 de novembro de 2011

TER CORAGEM

TODOS NÓS ESTRANHAMOS A REALIDADE que os portugueses nos mostram: de sermos, quando actuamos no estrangeiro, considerados como perfeitos trabalhadores, cumprindo todas as regras e sustentando toda a família que, entretanto, vai aumentando mesmo lá longe da Pátria. Os casos constituem uma regra geral e, como exemplo dessa característica encontra-se na Europa uma personalidade que é respeitada por toda a Comunidade e mesmo fora dela, sendo um português que, tendo exercido as funções de primeiro-ministro e que nessa condição nem terá deixado saudades, ao deslocar-se para fora de portas, aí tem dado uma boa imagem da nossa qualidade de trabalhadores e de um comportamento exemplar, falando várias línguas de acordo com os parceiros com quem tem de trocar impressões e sendo até um suporte qualificado da caminhada difícil da Europa. Trata-se, como é evidente, de Durão Barroso, personalidade essa a quem os portugueses devem prestar homenagem, posto que a exposição tão evidente e consecutiva que é mostrada pelas televisões de todo o mundo coloca o nome de Portugal numa craveira de inexcedível qualidade.
Este preâmbulo serve para justificar, de certa maneira, a lástima que somos forçados a sentir perante o estado a que chegou o nosso País, fazendo-nos crer que a solução de todos os nossos problemas se encontraria se transportássemos este pedaço de terra em que nos situamos para outro lugar e aí sim, empregássemos as nossas qualidades que edificaríamos um outro Portugal que recordaria a sua longa História de descobridores, pois que essa não se poderia perder em mãos alheias.
É evidente que esta ideia é completamente inexequível, mas, em tese, poderemos imaginar a Nação exemplar que se mostraria ao mundo, dado o povo tão especial e produtivo que ali vivia. Só que a verdade é bem outra e somos nós, portugueses, que temos o direito de nos criticarmos, sem dar ocasião a que estranhos façam a sua apreciação.
O facto de os nossos funcionários públicos de cargos superiores obterem rendimentos generosos, incluindo os gestores de empresas sustentadas pelo Estado, só essa forma de actuar trata-se de algo que, num País nórdico, por exemplo, não se verifica. Para além disso, a qualidade do nosso trabalho, quando exercido dentro de portas, não pode ter outra qualificação que não seja a de se situar num escalão baixo, com perdas de tempo consecutivas, com o telefone como colaborador, as conversas com os colegas distraírem, as saídas para fumar o cigarrito consecutivas e o cumprimento dos horários de trabalho não fazerem parte das regras. Não é, pois, que trabalhemos muito… o que trabalhamos é mal e é por isso que o aumento de meia hora por dia, recomendado agora pelo sector do Governo, não vai trazer baixa nos custos da produção, pois o que seria necessário era que, tal como sucede com os nossos emigrantes quando funcionam lá fora, a facilidade de despedimento dos que dão mau exemplo proporciona o empenho de quem não quer correr esse risco.
É duro, mas é verdade. E nem nenhuma CGTP pode tentar intervir quando cada um dos trabalhadores toma consciência de que, se não se comportar em favor do seu próprio proveito, o caminho que lhe é indicado é o da porta da rua. O que as personagens que têm alguma audição e presença nos contactos com o público deveriam fazer para ajudar a que passássemos a ser um País de boa produção, a suficiente parta podermos exportar e manter a balança económica regularizada, era insistirem com os seus compatriotas para que, nas horas de trabalho, não divergissem para outras funções, as que distraem do bom cumprimento das obrigações de quem tem um contrato laboral com a empresa onde presta serviços.
Se olharmos bem para o ponto onde chegámos e que insistimos em chamar de crise, como se fosse apenas ela que esteja na origem de todos os males, certamente que seria bem diferente o nosso estado. Tenhamos a coragem de reconhecer isso.

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