quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SOARES É ASSIM TÃO CULPADO?

VÁ LÁ QUE NEM TUDO SÃO ESPINHOS, embora não vivamos no mar de rosas que, durante anos passados, os governantes de cada período quiseram convencer os portugueses que era esse o nosso País.
Pois é, a troika que esteve a fazer o exame ao aluno que tem debaixo de olho deu-lhe nota positiva. Portugal tem conseguido seguir à risca as medidas que os três elementos que a compõem determinaram e, por isso, aí vêm mais 8 mil milhões de euros que terão de ser pagos no futuro… mas isso que se incomodem os que cá estiverem nessa altura.
E a outra rosa sem espinhos que a um grande número de cidadãos nacionais serviu de consolo e muito aplaudiram anteontem foi a passagem no campeonato de futebol que envolve vários países com uma vitória com margem folgada a uma Bósnia que, segundo parecia, trazia muitos adeptos do nosso futebol preocupados, pois o empate obtido antes no campo do adversário fazia prever a hipótese negra de não se conseguir, ainda que em casa, a vitória necessária.
Nada disso serviu para que se cantassem hossanas e muitos esfregassem as mãos de contentes por se convencerem de que sempre se irá receber o subsídio de Natal. Ainda se reza com alguma esperança para que, à última da hora, surja uma decisão que contrarie o que já foi declarado que o Estado não vai fazer mãos largas e que se tem de conformar o Zé Povinho com esse dinheirinho a menos, pois que a época é de recessão. E isso é um espinho que fica cravado e que bastante magoa.
Ao mesmo tempo e eu aguardo com grande curiosidade, já se sabe que, na próxima semana, Mário Soares lançará o seu novo livro, uma biografia que conta parte da sua vida, ainda que pareça que deixa o mais doloroso para certos visados para ainda uma outra obra que, se tiver saúde para isso – e eu espero que sim –, será nessa exposição dos pontos mais relevantes da sua vida política que não deixará nada por revelar.
Mas já se sabe alguma coisa, mesmo antes de ler o volume que será posto à venda, e que aponta para várias censuras a personalidades com quem conviveu e que, alguns deles, se encontram a planar em posições de relevo. Aguardemos, portanto.
Eu não tenho receio de afirmar que sou suspeito na apreciação, em muitos pontos positiva, que faço da figura do que foi, antes do 25 de Abril, um lutador pela queda do Governo, tendo sofrido, por isso, as consequências da cadeia e da necessidade de viver no estrangeiro, se bem que, pela folga financeira que teve a sorte de gozar, sobretudo devido à propriedade do Colégio que herdou do seu pai, não fosse alvo de qualquer momento de penúria. Mas, excluindo essa particularidade que muitos adversários do homem que já atingiu a bonita idade dos 85 anos fazem questão em considerar como sendo uma almofada (já que se usa agora esta palavra!) que não o favorece como lutador contra o sistema ditatorial anterior.
As posições que Soares ocupou, sempre através de luta democrática, foram naturalmente contestadas por diferentes interpretações de adversários que, especialmente no que respeita à entrega das antigas colónias nas condições em que o foram. Mas eu, que lastimo também que não tivesse sido possível proceder de maneira diferente, vou até ao período em que Marcelo Caetano ocupou o lugar de Salazar na presidência da governação e aí insurjo-me porque teria sido nessa altura que existiram condições para se efectuarem negociações com os grupos que mantiveram a guerra com Portugal, mas o locatário de S. Bento, encurralado por gente muito seguidora da política anterior, não foi capaz, não teve a coragem de enfrentar esses salazaristas empedernidos e já fora de moda, e preferiu manter o cansaço da guerra por África, com os custos em vidas que isso ocasionou e em largas somas de dinheiro, deixando passar o que tinha condições para ser conseguido com vantagens da nossa parte – e que eram, sobretudo, a permanência dos nossos compatriotas que tinham a sua vida estabelecida em tais locais e que foram depois obrigados a regressar, com a roupa do corpo, para sobrecarregar as condições difíceis em que viviam no Continente os seus compatriotas.
Querer culpar Mário Soares pelo que sucedeu, quando a ele não lhe cabia, na altura em que fez parte do grupo pós-Revolução, a menor possibilidade de entabular negociações com quem, na Guiné, em Angola e Moçambique já se encontrava senhor da situação, ou seja não havia a menor possibilidade de fazer retroceder a marcha que, ainda por cima, com as tropas portuguesas já com as armas depostas e contemplando o ponto de embarque para as suas casas em Portugal, pelo que o que havia a fazer era somente acalmar, dentro do possível, o ambiente vitorioso que reinava nos partidos africanos que queriam ocupar o mando de cada parte das ex-colónias que tinha servido para as lutas que, ainda que para eles perdidas (excepto na Guiné), face ao que ocorria em Portugal lhes servia para endurecer as suas posições.
Mas continuemos a procurar rosas para afastar os espinhos que já nem é preciso recordarmos, pois que o que lá vai, lá vai.
Ao longo da nossa História tivemos momentos bons e outros nem por isso. Recordemos apenas os mais risonhos.


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