segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

FALEM DE NÓS, AO MENOS MAL!

A INDISPOSIÇÃO QUE PROVOCOU o facto da Senhora Merkel ter feito, na mesma altura em que o presidente do Parlamento Europeu também a seguiu, comentários sobre a situação devedora de Portugal, saindo da boca de vários elementos políticos da nossa terra uma espécie de indignação colectiva, negando-se a evidência de por cá terem sido mal aproveitados os recursos vindos de fundos europeus, essa atitude é bem típica deste nosso povo e, por isso, também dos seus dirigentes e opositores que, mal habituados ainda à prática democrática, só quando surgem elogios é que se verifica sermos capazes de estar de acordo e de abrir um sorriso de orelha a orelha.
É verdade que é muito mais agradável que sejamos aplaudidos pelos outros do que termos de escutar críticas. Essa atitude é própria do ser humano, mas não é por isso que temos de nos empertigar todos se alguma nossa atitude não merece o aplauso dos que, ainda por cima encontrando-se no mesmo barco continental, entendem não esconder uma opinião diferente da nossa.
Mas, entre nós, temos de reconhecer que, por mais de uma vez e através de mãos políticas diferentes, as ajudas que nos foram proporcionadas, especialmente do grupo europeu, não levaram o caminho certo que fazia parte das condições por que tais ofertas foram criadas. Por sinal, uma dessas e no tempo em que Cavaco Silva exercia as funções de primeiro-ministro, a que se destinava a paralisar a nossa agricultura e a retirar barcos de pesca da actividade a que estavam destinados, essa oferta venenosa que foi religiosamente cumprida, só serviu para colocar Portugal numa posição deficitária nas duas áreas que constituem ambas um modo de reforçar a riqueza nacional, sobretudo no tema das exportações dos respectivos produtos, pois que, tanto no sector agrícola como no campo das pescas, ficámos completamente descalços, e assim nos encontramos hoje numa situação de deficiência que constitui o motivo por que nos campos férteis no interior do País se verifica um abandono apavorante e o aproveitamento da vasta área marítima de que dispomos (e que constitui uma evidente inveja da maioria dos parceiros europeus – que não contam com tal riqueza), também aí não conseguimos extrair o produto que, até pela sua alta qualidade, teria colocação em muitos países dispostos a adquiri-lo.
Ora isto é que os “mandões” europeus deveriam ter em consideração e não deixar de referir aquele acontecimento, se bem que ninguém nos obrigou a aceitar a proposta na referida altura e a culpa maior coube a quem dispunha do poder governativo para apoiar tal medida, de que não havia euros que chegassem para nos aliciar ao nosso empobrecimento que, recordo, teve a compartida de serem adquiridos pelos que negociaram os seus bens de produção para exibir uns tantos Mercedes e outros luxos que não são reprodutivos, antes são completamente condenáveis.
Já quanto à crítica feita ao caso da Madeira, a Senhora Merkel não errou totalmente o alvo. Quem conheceu o arquipélago antes das faustosas obras mandadas construir pelo Jardim e o percorreu depois tem consciência das facilidades implantadas no sector rodoviário, com os túneis e estradas complementares que reduzem drasticamente o percurso de toda a ilha maior. Que se tratou de uma melhoria, quanto a isso não há que ter dúvidas. Mas, como sempre sucede com os responsáveis dos governos que têm possibilidade de decidir, o que falta quase sempre é a diferenciação entre o que é essencial e o que pode esperar por período mais aconselhável.
Na Metrópole, idêntico erro fez Sócrates que, em vez de se precaver quanto a tempos difíceis futuros, foi-nos endividando à custa de auto-estradas que bem poderiam aguardar época mais aconselhável. Gastar verbas públicas através de endividamentos é que nunca!...
Por muito que não nos caia bem que venham de fora apreciações desconfortantes quanto aos nossos procedimentos, sobretudo quando temos de recorrer a empréstimos oriundos dessas áreas externas, manda porém a verdade que nos resignemos e que, perante isso recordemos a frase tão do agrado dos desejosos de mediação: “falem de nós, ao menos mal!”.
 

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