sábado, 11 de fevereiro de 2012

PIEGUICES PORTUGUESAS

AINDA QUE, AO SE OCUPAR UM LUGAR POLÍTICO, tenha de haver o maior cuidado com as palavras que se utilizam nos discursos que são avançadas, posto que a atenção, sobretudo da comunicação social que está sempre em funções no desejo de aproveitar uma queda que saia das bocas dos que, sendo privilegiados na sua vida própria, são também os que se situam sempre debaixo de olho, mesmo assim esta “distracção” feita pelo primeiro-ministro, o das pieguices como fica agora cognominado, não teria que ser tão levada a peito, especialmente por aqueles que não perdoam um deslize dos que têm sobre si o compromisso de nunca se enganarem.
Não é que eu considere o primeiro-ministro como um exemplo de comportamento, no que diz respeito a mostrar com total abertura as intenções que regem a caminhada que há a percorrer por Portugal e em que não há desculpas para eventuais erros, enganos e demoras. E, a propósito de pouca atenção quanto às acções que o Governo toma, a de, a poucos dias da data de se realizarem os festejos de Carnaval, ter saído Pedro Passos Coelho a anunciar a decisão de considerar aquela data como pertencendo ao número dos feriados e pontes que vão ser anulados do calendário nacional, o que, tendo em vista a necessidade de se trabalhar mais em Portugal (ainda que o problema não seja esse, mas sim o de se trabalhar melhor), seria levada a peito se tivesse havido o cuidado de ter em atenção os gastos que já estavam feitos por aqueles municípios onde, com um ano de antecedência, começam a ser preparados os elementos que entram em tal forrobodó, pelo que, ao não se permitir agora que se seguissem exemplos anteriores, os gastos já feitos para dar seguimento aos festivais seriam totalmente perdidos.
Logo, se há que atender a pieguices, a de confortar o primeiro-ministro pela medida mal tomada que lhe saiu da cabeça, essa ajusta-se perfeitamente a ser utilizada na situação em apreço e que provoca desobediências por parte de alguns municípios que, pelo menos desta vez, terão razão em fazer ouvidos de mercador.
É que, numa altura em que são vários os problemas que se apresentam para solução e que se revestem da maior importância, face ao perigo que nos ronda por cá de cairmos numa banca rota um dias destes, como seja por exemplo a imposição de que os gestores públicos não podem ganhar mais do que o salário mensal do chefe do Governo, o que terá alguma razão para ser levada a cabo, já foram divulgados cinco casos em que não se seguirá a regra. São os presidentes da Caixa Geral de Depósitos, da TAP, da RTP, dos CTT e da Empordel, os quais têm autorização para receberem mensalmente como salário um montante superior aos 5.300 euros brutos que sabem a Passos Coelho. Interrogamo-nos porquê estas excepções, mas teremos que não esquecer que se trata deste nosso País onde, afinal, as pieguices saem de todo o lado e há sempre alguém que leva em conta tais choramingas e permite as excepções. Nesta como em tantas outras situações. E isso quando a Caixa Geral de Depósitos apresenta um prejuízo histórico, entre os 400 e os 500 milhões de euros, mas  essa situação não altera em nada a disposição tomada de permitir que ali os salários dos principais sejam superiores ao do primeiro-ministro.
Que dizer, portanto, deste País governado por portugueses, que, no capítulo das actuações, são todos uns piegas, mesmo quando se trata de choramingar aos patrões um estatuto especial, ainda que todo o que se encontra em volta apresente razões para não se abdicar das regras gerais.
Para os militares e polícias que estão a bater o pé, não na parada mas nas ruas, por não lhes ter sido revisto o pré que lhes cabe, parece que os exemplos deveriam vir de cima, para que não se suceda em Portugal outro 25 de Abril, coisa que ninguém está em condições de garantir que não acontecerá.
De facto, em vista do mau resultado imediato que se sentiu no nosso País, ninguém estará com vontade de que tal suceda, mesmo que as pieguices surjam por todo o lado.

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