domingo, 12 de fevereiro de 2012

QUE DIRIA PESSOA?

TENHO CONSCIÊNCIA DE QUE recordar Fernando Pessoa numa altura em que os portugueses têm de andar bastante preocupados com todos os problemas resultantes da situação que se vive neste País que, também por sinal, nunca foi muito dado, na generalidade dos seus habitantes, a recordar as figuras de relevo que abundam na nossa História, fazer apelo neste momento a que paremos uns momentos a pensar o que se passaria com tais personagens que, cada qual e de uma forma geral, passou por grandes dificuldades na luta pela subsistência das obras, de muitas espécies, de que foram os autores e/ou impulsionadores, se nesta altura fossem indivíduos viventes, poderá ser considerado como uma perde de tempo e de infrutíferos resultados.
No entanto, dado que no que me diz respeito, consigo, como sempre o fiz, interiorizar-me e pôr a imaginação a trabalhar, já tenho dado comigo a “falar” com tais figuras e a tentar recolher as opiniões dessa gente se, mesmo transpondo em alguns casos, centenas de anos, estivessem sentados a meu lado. Tem o seu quê de idiotice, mas já que eu não vivi nas épocas em que as referidas personagens conviveram com os seus compatriotas portugueses, faço-os percorrer a distância, maior ou menor de acordo com o prazo que os separaria da data de hoje, e procuro “ouvir” as suas opiniões no que se refere ao tratamento que dariam, literariamente se tivessem sido artistas das letras, perante as circunstâncias que enfrentamos nós, os que estamos vivos e que não sabemos, para além da crítica pura e simples, dar um tratamento filosófico a toda a panóplia de soluções que os governantes dos nossos dias lá vão encontrando a custo.
Fernando Pessoa, personalidade singular que, tendo vivido todo o tempo recolhido na sua actividade literária que só foi divulgada em pleno após a sua morte em 1935, seria a figura com quem mais me interessava conviver e que me oferece melhor possibilidade de uma aproximação, entre outras razões porque ainda vivi cinco anos antes de ocorrer a sua partida para outro mundo.
Tendo sido, para lá da sua actividade literária, um escriturário, com funções de tradutor de cartas comerciais numa pequena empresa num terceira andar na rua dos Douradores (segundo se supõe), seria o intelectual que melhor entenderia um mundo como o que nos rodeia neste período, com todas as suas fraquezas humanas e contradições, especialmente no que respeita a desentendimentos oriundos das invejas que os homens, sobretudo quando se encontram instalados em lugares cimeiros dos países que representam, fazem questão de salientar, convencidos que estão ter atitudes altamente patrióticas, o que, em significado simples, são as razões dos acontecimentos bélicos em que se envolvem os países seja onde for o local onde se situam.
Depois da Segunda Guerra Mundial, um confronto com aquela dimensão não aconteceu no nosso Planeta, mas conflitos múltiplo nas mais diversas partes do Globo, esses nunca deixaram de existir, o que, apesar de tudo, não ocasionaram ainda uma baixa significativa do número de habitantes que ocupam todos os continentes, ao ponto de ter sido, há pouco tempo, comemorado com grande significado de prazer o ter-se chegado ao número de sete mil milhões de habitantes a pisarem todo o espaço terrestre.
E foi aí que eu fiz questão de conhecer a opinião do grande Fernando Pessoa, figura mítica e multipessoal que, só por sua imaginação criou vários heterónimos, para saber como poderia interpretar o ser humano de hoje, já que a sua capacidade de inventar seria capaz de vislumbrar a época que atravessamos nesta altura, com todos os múltiplos problemas que a capacidade inventiva que os homens têm demonstrado com inúmeros avanços científicos e tecnológicos que fizeram com que as máquinas substituíssem largamente a mão de obra e o alargamento da vida humana, com as consequências desastrosas que se verificam nas áreas do desemprego, foi precisamente nesses pontos que a minha curiosidade saltou para um diálogo que eu mantinha na minha cabeça.
Mas Pessoa, com a sua voz pausada, como eu creio que teria, olhando-me por detrás dos seus óculos de lentes redondas, só me elucidou com uma resposta bem curta: é a guerra que faz falta, a guerra mundial e utilizando os meios mais modernos de eliminação de homens e de cidades inteiras, pois é o único remédio que o mundo pode encontrar para, de uma vez, diminuir o número exagerado de população e de criar trabalho com a recuperação do destruído. E acrescentou ainda: esse remédio chegaria para dar a paz e vida suportável durante alguns anos, mas não seria solução para todo o sempre.
E aí fiquei eu a tentar assimilar se de uma cabeça como a que correspondia à de Fernando Pessoa, poderia sair tal resposta que não esperaria que surgisse de um poeta que viveu poucos anos do século XX. Afinal, por mim, já exprimi uma opinião que se assemelha a esta pessoana. Será que não existindo outra saída para que nós, a Europa e o mundo, nos possamos entender e sejamos capazes de trazer o mínimo de tranquilidade aos habitantes do nosso Planeta?


 

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